31 de julho de 2011

Um chá de cavalheiros a 200 km/h

Quando era criança (mais do que agora) o meu Pai contava histórias de um pequeno Françês nascido em Lorette e que ostentava a alcunha de "O professor" entre os seus colegas de profissão. O seu estilo calculista e abordagens metódicas renderam nada mais nada menos que cinco títulos Mundiais. Era comum vê-lo dividir a performance dos seus travões em função do estado da pista, subtrair a sua presença a riscos desnecessários e elevar a longevidade dos seus pneumáticos a um expoente inversamente proporcional ao dos seus colegas. A sua antítese era um Paulista de capacete amarelo cujo o único cálculo de que era capaz era o de somar. Somava velocidade, riscos, sequências de qualificação perfeitas. E era comum vê-lo já com a pole na ardósia sair da box para mais uma adição estonteante de curvas rápidas cujo resultado final era sempre, ou quase sempre, o aplaudir em uníssono de 150 milhões de almas (números em 1990, em honra d'O professor). Ambos eram os melhores do seu tempo e ambos deixaram atrás de si um legado de mal entendimentos, ultrapassagens forçadas cujo resultado era muitas vezes a dupla eliminação. Em suma, dois egos do tamanho do Mundo que dificilmente cabiam na mesma curva.


Hoje, muitos anos depois, podemos encontrar na mesma equipa duas personalidades em tudo semelhantes ao dois brilhantes antepassados que tanto entusiasmavam multidões. A grande diferença está no pequeno-grande detalhe de ambos serem Ingleses. Button e Hamilton são o Prost e o Senna dos tempos que correm. Um é frio, metódico e calculista, o outro um cliente habitual dos comissários de pista todos os fins-de-semana. No Domingo passado, num traçado molhado cuja a margem para erro era reduzida, ambos os pilotos lutaram de igual para igual pela liderança da prova. Tal como Senna e Prost, também Button e Hamilton tinham luz verde da equipa para chegarem ao primeiro lugar, mas ao contrário do Paulista e do Françês a dupla Britânica pilotou com a serenidade própria de dois cavalheiros. A emoção do duelo foi imensa, mas o cavalheirismo presente na sequência de entrada em curva ao render de armas na trincheira do corrector foi algo de épico.

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