21 de janeiro de 2008

Direcção Sevilha - De que precisamos nós?

Em vários aspectos penso que tenho um trabalho fantástico. É uma visão pessoal e certamente os que lêem este texto terão uma visão semelhante sobre a sua própria actividade profissional.

Acordar cansado numa cama dura em Sevilha, apanhar o 32 cheio de Espanhóis com cara de quem acordou com tanta vontade quanto eu e ficar fechado num hotel com mais 70 pessoas a discutir burocracias pode à primeira vista não parecer muito agradável. Pois bem, na verdade não é nada agradável, mas faz parte do trabalho.

Às vezes dou por mim a pensar que nem por todo o dinheiro do Mundo eu ficaria a assistir a um tipo de aspecto duvidoso mostrar 47 slides onde descreve o método que usou para capturar e identificar a proveniência do pólen de uma espécie de abelha pertencente à família Colletidae, ou Apidae, ou Dasypodaidae, ou lá como se chamava a desgraçada família da pobre abelha solitária (é verdade, fiquei a saber que há abelhas solitárias). A verdade é que fiquei até ao fim da apresentação, assim manda o protocolo, assim manda o instituto e assim eu obedeci...

Encontramos assim um paradoxo. Se não há dinheiro que pague a seca que apanhaste, porque continuas tu a ir? Porque não arranjas tu um emprego mais bem pago onde não tenhas de aturar estes tipos? Tudo isto é verdade e ao mesmo tempo tudo isto é insignificante, muito simplesmente porque tudo isto se desvanece quando olhamos para uma coisa que o protocolo não contempla, as pessoas. Os contactos pessoais que são feitos, a troca de conhecimento, ideias e visões, as discussões sobre tudo e mais alguma coisa que possa ou não existir, a constante partilha de histórias e problemas enriquecem-nos muito para além do real valor económico de uma qualquer transferência bancária.

Olhando para o passado da minha estadia neste país, houve um momento em que o dinheiro não abundava, a bolsa que recebia de Portugal era quase toda gasta para pagar a renda da casa. O resto tinha de ser gerido rigorosamente entre comida e transportes públicos. Mas a grande conclusão que tiro é que, mesmo não ganhando sequer o ordenado mínimo, eu não era infeliz, era tão feliz como sou agora. Este Mundo materialista dá-nos momentos de prazer efémeros quando compramos um carro, um computador etc... Mas, que ganhamos nós interiormente com isso? Tudo o que eu ganho com todas estas experiências novas e conhecimento não pode ser traduzido em Euros ou Dollars, ou melhor, até podia, se arranjarem zeros suficientes, tantos quantos os átomos que me compõem... Nas palavras do Thomas Hickler “Luís, all that Man needs is love, recognition and food...” ou então numa versão mais simplificada da Ines Oman...you can simply replace what Thomas said by the three S's rule... All that mankind needs is Sleep, Survivance supply and Sex...”.

Será que têm razão? Será que conseguíram aquilo que filósofos buscam desde tempos imemoriais? Afinal de contas, de que precisamos nós?



2 comentários:

Anónimo disse...

LINDO!!!!!!!!!!!!!!!!!

Onde é que eu assino por baixo???

Anónimo disse...

Leio as tuas divagações e sinto que estamos a ter as nossas agradáveis conversas... o dinheiro não é tudo..

Grande abraço

Trans - Siberiano