10 de fevereiro de 2015

A arte da impossibilidade...

Tradução é uma arte pouco apreciada. Consiste em pegar num pedação de texto escrito numa língua alienígena, interpretar o seu significado, desmontar o sentido de cada palavra original e do texto como um todo, encontrar novas palavras que preservem a ideia original e por fim refazer a métrica para que a tradução não se assemelhe a um produto computorizado.

A maior arte no mundo da tradução é a aquela que se ocupa com poesia. Traduzir um texto técnico tem a sua dificuldade, mas nada que um bom dicionário e paciência não resolvam. Traduzir um romance é mais difícil, uma vez que temos personalidades, culturas e outros aspectos que têm que ser abstraídos. Traduzir um poema é uma tarefa impossível, inglória. Não duvido que o ser humano pise em breve o solo de Marte, à boleia da técnica e da ciência. Mas nunca, em tempo algum, alguém conseguira a tarefa tão simples de traduzir as primeiras palavras do poema "The Tyger" de William Blake para Português mantendo o seu mais completo sentido. 

"Tyger, tyger, burning bright 
In the forests of the night,"

Como traduzir sequer as primeiras duas primeiras palavras, que por acaso até são a mesma. Como? Tigre, tigre? Não. Não existe o mesmo movimento que Tyger, tyger confere ao poema, nem tão pouco a leve rima com a palavra "bright". T(ai)ger, t(ai)ger, burning br(ai)ght". Qual a palavra Portuguesa que rima ao de leve com "tigre" e carrega com ela o significado de "algo que brilha", ou vice-versa. É simplesmente impossível.

E se assim é para o poema de Blake, que dizer da tarefa hercúlea que Nobokov fez para obter as linhas iniciais de Eugene Onegin, de Russo para Inglês.

"My uncle has most honest principles:
when he was taken ill in earnest,
he has made one respect him
and nothing better could invent... "


 

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