3 de fevereiro de 2008

Morte e orgulho 2

(Continuação do post anterior)


Não sei se com esta visita fiquei esclarecido mas deu para tirar algumas conclusões.
Pelo que vi no museu, existia quase uma equivalência entre a atenção dada ao touro e ao toureiro. Ou seja, o homem, com toda a sua ignorância sanguinária no momento da tourada, tem o discernimento de, no fim, elogiar tanto o que mata como o que morre. Penso que é aqui que se encontra o ponto fulcral da questão. É permitido ao Homem matar por simples vaidade?(porque não tenhamos dúvidas, é efectivamente de vaidade que se trata), ou terão os touros o direito "humano" de não sofrer perante uma plateia que aplaude a cada golpe desferido?

Vamos começar pelo principio. Ao longo dos tempos o Homem sempre matou, quer pessoas, sem razão aparente, quer animais, por necessidade. Presentemente continua a matar pessoas, ainda sem razão aparente, e animais, ainda por necessidade mas agora também por divertimento, como são os casos da tourada e da caça desportiva. Deve então o homem parar de vez com este divertimento sanguinário e reconhecer nos animais direitos semelhantes aos dos seres humanos? Devemos nós, raça superior, ter o bom senso para colocar um ponto final à chacina teatral que povoa as praças de touros de Portugal?

Decidi fazer então o seguinte exercício. Vamos pensar como seria estar na pele de um animal que vai dar entrada na praça de touros para se dar inicio à tourada, neste momento somos um touro. Vivi a minha vida em quase total liberdade de modo a crescer forte e bravo. Corri os campos de sol a a sol enquanto que os meus semelhantes eram criados em cativeiro alimentados por compostos químicos para um crescimento rápido. Saltei, dormi ao relento, comi da natureza e agora vou morrer... Vou morrer, não numa sala esterilizada ladeada por azulejos brancos, não atravessado por uma corrente eléctrica administrada por um técnico... Vou morrer sim, mas só depois de uma última batalha com aquele que me criou...

Se acham que o touro tem efectivamente o direito a uma morte digna, cabe a cada um de nós buscar o conceito de dignidade... Se me derem a escolher entre uma morte asséptica e controlada e uma morte sangrenta numa última batalha com o meu inimigo, eu não tenho a menor dúvida da minha opção...

1 comentário:

Anónimo disse...

Eu gosto de touradas... (ja sei, ja sei...) e quando penso nelas, acredito que é preferível matar o touro na arena (como em Espanha) do que deixa-lo a sofrer no final (como em Portugal)... (ja estou a ouvir as vaias)... mas o que mais me agrada na tourada... são os forcados :) esse sim, para mim é o ponto alto da tourada... dispensava o resto, as mortes, os cavaleiros... mas deixava os forcados... essa parte sim, uma prova de coragem e respeito por aquilo que o touro representa....

Trans - Siberiano