18 de setembro de 2014

Três notas sobre a tensão Ucrânia-Rússia...

Observar a situação entre os estados da Ucrânia e a Rússia provoca um considerável desconforto interno. Tanto mais quando leio tentativas inúteis de descobrir o grande culpado por toda a situação. Vale neste caso a máxima de Dostoievski: a divisão entre bons e maus não existe, todos somos maus por natureza. O mais importante na nossa conduta deve ser a denúncia dos nossos erros.


Assim sendo, aquele que busca o bom e o mau nas tensas relações entre a Ucrânia, Rússia, Estados Unidos e União Europeia está condenado ao fracasso. O melhor a fazer não é tentar encontrar culpados, mas sim rever quais os erros cometidos por todos os intervenientes; sabendo nós de antemão que não é possível atribuir uma medida concreta aos erros. Um erro é um erro. Não existem erros pequenos nem grandes, uma vez que não nos é possível avaliar todas as consequências que o mais pequeno erro carrega. Existem vários mas aponto apenas três que me parecem pertinentes:

1 - A Rússia não previu uma resposta coordenada por parte dos Estados Unidos, a Europa e Ucrânia. Calculou que seria suficiente armar umas centenas de homens com centelha separatista para tomar o leste da Ucrânia, quer por via da forçam quer por via de referendos fantasma. Ao contrário do que se passou na Geórgia, a União Europeia respondeu a uma só voz, a Ucrânia reorganizou-se e os combates passaram de dias a semanas e de semanas a meses. Com a chegada do inverno, vai ser muito difícil à Rússia assistir os separatistas sem uma entrada definitiva em território Ucraniano. Ainda mais se Putin quiser garantir uma via de acesso para suportar a Crimeia. Rússia está num beco sem saída. Em caso extremo, penso que Putin vai cortar, do dia para a noite, o apoio aos separatistas. Preferindo a morte dos mesmos que ele armou ao isolamento internacional que uma entrada do exército Russo na Ucrânia acarreta.

2 - A pseudo-revolução (a segunda desde 2004!) que aconteceu em Kiev depôs um governo que, para todos os efeitos, era legítimo e cuja maioria do apoio vinha das regiões leste da Ucrânia. Após a queda do presidente pró-russo, o "governo de transição" (convenhamos que o uso da palavra governo é neste caso bastante condescendente) não fez o menor esforço para unir uma Ucrânia dividida. Muito pelo contrário, acentuou de forma definitiva a sua "divisão natural" ao proibir o Russo como segunda língua oficial, uma língua falada por mais de metade da população que vive no leste do país! Se uma bala fere a carne, a proibição da língua materna fere o coração. Um promenor pouco discutido mas que considero um erro muito grave por parte de um governo ilegítimo e uma dos  grandes catalisadores da instabilidade que hoje se vive. 

3 - Sanções económicas! O erro cometido por parte dos diplomatas ocidentais foi, uma vez mais, pensar que um Russo pode ser comparado a um Europeu ou Americano. A Rússia não se mede ao metro nem à milha mas sim arshin. Qualquer pressão imposta a Rússia resultará inevitavelmente na unificação da população em torno do seu líder. Comparado com os rigores soviéticos, as sanções impostas pela UE são geleia para o Russo comum. Estamos a falar de um povo que suportou décadas de Estalinismo sem verter uma lágrima. Se levadas ao extremo, as sanções podem ferir a economia Russa a sério. Economia que o ocidente terá depois que ajudar num futuro pós-Putin, sem a menor garantia que o próximo líder seja melhor que o actual. Uma estratégia demasiado perigosa e cara.

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