19 de agosto de 2009

Complexidade: A doença do futuro...

É assustador pensar como as nossas vidas se tornaram numa ode à complexidade.

Longe vai o tempo onde para se tirar um café tínhamos que moer os grãos, colocar água na tradicional cafeteira em alumínio, pressionar o café, enroscar a parte superior, ligar o gás e esperar pelo barulhinho característico que nos avisava quando toda a água tinha sido transformada em café. Hoje em dia compramos máquinas que aparentemente tornam tudo mais simples. Compramos uma máquina com design moderno e atractivo introduzimos nelas pequenas cápsulas seladas a vácuo com algo que julgamos ser café e por fim bebemos o produto com grande satisfação. Ora nesta ânsia de simplificar a vida acabamos por complicar, complicar bastante.Anteriormente contentávamos-nos com uma ou duas variedades de café. Agora, com as cápsulas magicas, temos uma infindável variedade de sabores à nossa disposição, sabores e cheiros para todos os gostos em cápsulas de cores variadas. Com esta rapidez de acesso parece que nos esquecemos do essencial, degustar o café. As nossas cápsulas preferidas são usadas a um ritmos frenético enquanto esperamos ansiosos pela próxima novidade, a próxima moda, o próximo produto.
Depois tudo recomeça, mas o café (se é que ele existe dentro dessas cápsulas seladas) permanece café e nada mais. O simples afinal é complexo pois estas cápsulas já não servem só para fazer café, são como que um status, uma moda passageira que será substituída e nos obrigará a nova interpretação do que é afinal um simples café...

Um dos melhores filmes alguma vez criados e que ainda inspira gerações inteiras é o épico Casa Blanca. A história de um casal apanhado uma espiral de intriga, corrupção, dever, guerra e emoções imortalizadas em uma hora e meia de filme. Parece que os realizadores de antigamente conseguiam contar uma boa história sem recurso a composições fictícias em apenas uma hora e meia. O Mundo chorou literalmente quando Ilsa abandona Rick na estação de comboio numa manhã chuvosa em Paris. Hoje em dia, raro é o filme que dura apenas uma hora e trinta, raro é o filme que nos faz chorar. Presentemente precisamos de efeitos computorizados e de sequelas ou triologias que nos vão contentando enquanto duram, mas que depois deixam um vazio inexplicável.

Andamos a introduzir complexidade no Mundo a olhos vistos.
Os veículos que conduzimos já chegam ao ponto de nos avisar quantos quilómetros faltam para ir à revisão. Os nossos telemóveis mais parecem canivetes Suíços electrónicos, fazem um pouco de tudo, mas não fazem nada realmente bem. "Antigamente" trocávamos umas mensagens ocasionais por e-mail, agora Twitamos ao Mundo cada vez que deparamos com um link. Já não nos chega quatro canais de televisão, temos de ter 500. Quantos já pensaram em nem ter televisão sequer? (Acreditem que evitavam ter que lidar com muita estupidez.) As nossas vacinas já só servem por tempo reduzido, os vírus vão se adaptando à nossa complexidade e por mais sofisticadas que as nossas armas sejam eles continuam aparentemente imparáveis.


Depois de pensar um pouco, descobri, sem surpresa, que toda esta complexidade é uma inevitabilidade física acelerada pela invenção humana. Desde a sua formação, a matéria na Terra permaneceu práticamente constante, apenas entraram uns meteoritos e saíram uns satélites, quantidades ínfimas quando comparadas com a massa terrestre.
Toda a matéria de que somos feitos e com a qual operamos as nossas vidas já cá estava nas mesmas quantidades mas sob outras formas, há trinta, mil ou 100 mil anos atrás. É a nossa imaginação que está a acelerar o já inevitável aumento de entropia do nosso planeta e, por consequência, das nossas vidas.

Como evitar o aumento de complexidade? Não há resposta única penso eu. Não chega desmaterializar as nossas vidas, temos também de fazer o esforço de descomplexar o modo como pensamos. Abrir finalmente os olhos e aceitar que não somos capazes de controlar o que nos rodeia, largar a mania de tudo querer e de tudo saber, parar para pensar. Quantos de nós tira tempo durante o dia para simplesmente pensar?

Abraços

1 comentário:

DiegoLego :^v disse...

Eu - tipicamente duas horas por dia no trem (comboio) de Berlim para Potsdam e devolta. Um abraco.

Trans - Siberiano