27 de abril de 2009

Há mar e mar...

A recessão do Mar de Aral é um dos mais conhecidos exemplos de impactos ecológicos e económicos em larga escala resultantes de políticas megalómanas de desenvolvimento. Um exemplo flagrante de como políticas desajustadas à realidade levaram à criação de uma cicatriz ambiental e social.



Corria o ano de 1918 quando o Politburo, por alma e graça de não se sabe bem quem, decidiu que os rios Amu Darya (Cazaquistão) e Sir Darya (Uzbequistão) seriam desviados de modo a fornecer água as grandes plantações de arroz, cereais e principalmente algodão. Esta estratégia fazia parte do plano "ouro branco" soviético para o Uzbequistão. A consequência imediata da regulamentação e desvio dos referidos cursos de água foi a estagnação do abastecimento de água para o Mar de Aral, na altura o quarto maior mar interior do Mundo.


As consequências desta política para o Mar de Aral foram completamente ignoradas pelo governo comunista até 1964, ano em que, o hidrologista Aleksandr Asarin escreveu preto no branco que o mar estava condenado a desaparecer. A agricultura extensiva dos campos Uzbeques de algodão levou a um imput massivo de fertilizantes na pouca água que ia chegando ao Aral. A poluição química associada a uma crescente salinização provocada pela evaporação levou a que o Mar de tornasse quase estéril.


No epicentro desta história temos a aldeia de Muynak. Outrora uma florescente comunidade piscatória, a cidade é hoje uma sombra de si mesmo uma vez que a indústria pesqueira desapareceu no mesmo rácio ao qual o Mar regrediu. Apesar da
inevitabilidade conhecida, o governo soviético não modificou a sua estratégia iludindo as populações "costeiras" com mais investimentos em novas frotas pesqueiras. Num comunicado pessoal de Aleksandr "It was part of the five-year plans, approved by the council of ministers and the Politburo. Nobody on a lower level would dare to say a word contradicting those plans, even if it was the fate of the Aral Sea.".


As políticas Soviéticas levaram a que o Uzebequistão se tornasse no quarto maior produtor de algodão no Mundo, no entanto o preço ambiental deste feito foi elevado. O inevitável aconteceu. Com o colapso da USRR e a quase completa regressão do Mar de Aral estima-se que mais de um milhão de pessoas da província de Karakalpakia tenham sido directamente afectadas ou pelos impactos económicos da ou pela contaminação da água. O deserto ocupou o antigo leito do Mar e as antigas cidades costeiras são agora assoladas por tempestades de areia, coisa impensável meio século a esta parte. Existem planos para revitalizar o Mar de Aral. No entanto os custos são enormes, as opções são escassas e envolvem na maioria das vezes soluções de engenharia pesada como a construção de barragens ou transvases.

Os únicos guardiões que persistem neste mar virado deserto são os navios da era Soviética. Ficaram para trás ignorando o rápido recuo da linha costeira, lembrando as gerações futuras da magnitude que as decisões de um restrito grupo de pessoas tem no nosso Mundo.

Abraços

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