23 de maio de 2008

Acção-reacção

O meio científico surge por vezes armado com questões irresolúveis. Está vestido de complexidade que por vezes não nos é tangível, propaga-se em diferentes escalas e dimensões deixando um rasto de "aparente" ganho de conhecimento. Estou, é claro, a ser um pouco negativista. Não quero menosprezar a ciência, mas também não quero menosprezar o resto. O resto que pelos visto não é ciência, o resto que pelos vistos não pode ser incluído num peer reviewed journal, o resto que se chama resto mas que deveria ter outro nome.

Perguntaram-me um dia no PIK.
Luís onde achas que devemos publicar isto? (na altura um artigo sobre incêndios florestais)
Eu, um pouco farto de certas falsidades e auto-elevações a que já me acostumei neste meio respondi:

Gostava de publicar este artigo num daqueles calendários com mulheres semi-nuas que podemos encontram nos quartéis dos bombeiros.

O silêncio foi total, por momentos não percebi se tinham levado a mal ou não. Depois acabaram por sorrir, a reunião acabou uns minutos mais tarde e eu fui para casa.

Pensei até que ponto tudo isto interessa. A ciência como ferramenta, emprego, visão ou simplesmente dinheiro. Existe um certo romantismo nesta vida, as viagens, as teorias que se refutam e aceitam e o querer fazer a diferença... Mas e o resto? O resto que aqui (ciência) se chama resto e que na verdade é o tudo. Escrevo só agora porque na altura não me dei sequer ao trabalho de pensar e reflectir em como a ciência é estupidamente simples e o resto é tão estupidamente complicado.

Vejamos algo muito simples. Uma fotografia arrancada das catacumbas do CERN.

Aparentemente isto é uma "complicada" representação da simulação da detecção do bosão de Higgins. Uma partícula que é, imaginem só, hipotética, mas que é a a chave para explicar à origem da massa das outras partículas elementares. Parece complicado não parece? Bem, não tenhamos ilusões, é só uma fotografia... Pensem nas consequências reais se tal descoberta for realizada, pensem bem e digam-me uma, apenas uma.

Agora vejamos uma outra imagem, as 95 teses de Martin Luther onde desafia os ensinamentos da Igreja na natureza da penitência, a autoridade do papa e da utilidade das indulgências. Para redigir este texto não foram necessários terabites de informação ou processadores de última geração, apenas foi preciso um homem e uma mente.

Este desafio à igreja marca o início da separação entre protestantes e católicos. Uma separação que originou na Europa a guerra do 30 anos e um incontável número de mortos. Este pequeno texto desafia a nossa percepção de acção-reacção.

Quero sentir que podemos provocar uma grande reacção através de acções pequenas. Não me agrada os formalismos elevados ao quadrado que se vive em muitos dos ambientes científicos, quero ser pessoal e pautar as minhas acções pela pequenez de escala e abrangência utópica da sua reacção, quero ser um Transmontano saloio num País organizado em torno da eficácia.

Nas nossas acções medimos as futuras reacções, no entanto, isto soa muito a ciência. Proponho não pensar mais nas consequências das minhas acções por uma semana e fazer o que bem entender. Depois verei o que aprendi, sim, porque vou sempre aprender.

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