Geralmente, os turistas que se passeiam por Berlim, evitam tirar fotografias deste ângulo. Eles preferem obter apenas a igreja (Berliner Dom) nas suas imagens. Não estão interessados em levar para casa imagens da desconstrução do Palácio da República (Palast der Republick) mesmo na rua em frente. A última morada do parlamento da antiga Republica Democrata Alemã está a ser desmantelado, muito lentamente e com muito cuidado porque o edifício foi construido usando placas de amianto. Eu há muito que deixei de ser um turista por estas bandas, tirei esta fotografia porque a situação é no mínimo curiosa. Uma igreja e um símbolo de um regime partilham o mesmo espaço, no entanto, a igreja está a ser restaurada e o símbolo do regime está a ser destruido...
Não tenhamos dúvidas, ambos os edifícios têm na sua história momentos de opressão. A igreja (neste caso católica) durante séculos perseguiu e matou dissidentes da sua doutrina, elaborou cruzadas para repor o controlo cristão sobre a Terra Santa. Criou o Santo Ofício (Inquisição) para combater heresia dos cátaros, perseguiu e ordenou matar bruxas...
O Palácio da República é o símbolo da clausura a que um povo esteve sujeito por quase meio século. O regime comunista perseguiu e matou dissidentes, controlou mentes e massas com uma doutrina socialista de partido único. Reprimiu liberdade de pensamento e de expressão e proibiu a igreja...
Os dois edifícios partilham momentos negros na sua história. Mas agora, à luz do século 21, um deles é restaurado e o outro não. Que conclusões podemos tirar então? Serão as pedras da Igreja mais resistentes às mudanças do que o amianto soviético? Ou será uma questão de escala temporal? A Igreja tem origens mais antigas do que os, digamos "modernos", regimes.
Como pode então uma instituição, que ainda hoje é portadora de um certo conservadorismo de pensamento e actuação, sobreviver às intemperes de mudança que assolam o nosso Mundo? Que lições podemos tirar do destino destes dois edifício?
Não sei bem como explicar, ou até se há alguma coisa para explicar. Talvez seja só o rumo da história a apagar o que deve ser apagado e a preservar o que deve ser preservado. A igreja mantem-se firme porque não reflecte apenas uma ideologia, um esquema. Mantem-se firme porque representa esperança e conforto quando algo falha. Um sistema político nunca poderá fazer isso por nós, nem mesmo uma democracia nos pode preencher por dentro, ela apenas nos dá uma voz para falar para fora. Então as pedras gastas e poeirentas movidas por fé são mais fortes que o aço movido por políticas.
Penso que a analogia feita com os materiais de construção é apropriada. Uma pedra vai sofrendo erosão, reduz-se a pedras mais pequenas, a areia e por fim a pó. O aço é corroído e quebra, quebra de uma forma amorfa e sem vida... Se pudesse regressar a este mesmo local daqui a mil anos, certamente haveria espalhadas pela estrada pequenas pedras da igreja original que poderia apanhar e levar no meu bolso. Certamente que haveria também pedaços de aço, mas, sejamos sinceros, qual deles prefeririam?
Abraços
Não tenhamos dúvidas, ambos os edifícios têm na sua história momentos de opressão. A igreja (neste caso católica) durante séculos perseguiu e matou dissidentes da sua doutrina, elaborou cruzadas para repor o controlo cristão sobre a Terra Santa. Criou o Santo Ofício (Inquisição) para combater heresia dos cátaros, perseguiu e ordenou matar bruxas...
O Palácio da República é o símbolo da clausura a que um povo esteve sujeito por quase meio século. O regime comunista perseguiu e matou dissidentes, controlou mentes e massas com uma doutrina socialista de partido único. Reprimiu liberdade de pensamento e de expressão e proibiu a igreja...
Os dois edifícios partilham momentos negros na sua história. Mas agora, à luz do século 21, um deles é restaurado e o outro não. Que conclusões podemos tirar então? Serão as pedras da Igreja mais resistentes às mudanças do que o amianto soviético? Ou será uma questão de escala temporal? A Igreja tem origens mais antigas do que os, digamos "modernos", regimes.
Como pode então uma instituição, que ainda hoje é portadora de um certo conservadorismo de pensamento e actuação, sobreviver às intemperes de mudança que assolam o nosso Mundo? Que lições podemos tirar do destino destes dois edifício?
Não sei bem como explicar, ou até se há alguma coisa para explicar. Talvez seja só o rumo da história a apagar o que deve ser apagado e a preservar o que deve ser preservado. A igreja mantem-se firme porque não reflecte apenas uma ideologia, um esquema. Mantem-se firme porque representa esperança e conforto quando algo falha. Um sistema político nunca poderá fazer isso por nós, nem mesmo uma democracia nos pode preencher por dentro, ela apenas nos dá uma voz para falar para fora. Então as pedras gastas e poeirentas movidas por fé são mais fortes que o aço movido por políticas.
Penso que a analogia feita com os materiais de construção é apropriada. Uma pedra vai sofrendo erosão, reduz-se a pedras mais pequenas, a areia e por fim a pó. O aço é corroído e quebra, quebra de uma forma amorfa e sem vida... Se pudesse regressar a este mesmo local daqui a mil anos, certamente haveria espalhadas pela estrada pequenas pedras da igreja original que poderia apanhar e levar no meu bolso. Certamente que haveria também pedaços de aço, mas, sejamos sinceros, qual deles prefeririam?
Abraços
1 comentário:
Excelente observação Luís, só realmente a tua particular sensibilidade poderia tecer tais considerações.
Vai dando noticias
Um abraço
Joaquim
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