12 de fevereiro de 2008

A beleza das coisas...

Sempre tive medo do passar do tempo, confesso, envelhecer assusta-me. Digo até mais, assusta-me e muito... Ontem escutei uma palestra de um senhor já velhinho chamado Murray Gell-Mann, sim, esse mesmo, o senhor que introduziu o conceito de Quark em 1969 e que lhe valeu o prémio Nobel da física... Já tive o prazer de o cumprimentar aquando da sua visita ao PIK em Outubro do ano passado... Na altura falar com ele foi impossível, tal era a quantidade de pessoas que pretendiam um autografo seu nas cópias do livro "The Quark and the Jaguar" que orgulhosamente traziam debaixo do braço... Ontem vi uma apresentação dele online no site TED onde falava da beleza das coisas. Desenvolveu este conceito curioso derivado da física onde afirma que: se uma coisa é bonita então é porque essa coisa está correcta... Eu fiquei então a pensar no assunto...

Quando nos apaixonamos por outra pessoa o sentimento que daí deriva é lindo, a pessoa também o é, pelo menos aos nossos olhos. Todos sabemos que o amor está certo. Quando o céu está azul é bonito e quando está cinza não... o céu está sempre correcto, mas o sentimento que nos transmite não. Um céu azul transmite, correctamente, alegria, e um céu cinza não... É claro que o conceito de beleza muda, mas os sentimentos decorrentes da beleza são universais... Tudo isto parece-vos óbvio? a mim não?

Ao ouvir Murray Gell-Mann falar não fazia ideia de como ele ia solucionar o meu medo da velhice... Mas a verdade é que ele o fez... Como tenho medo da velhice sei que não vou ter tempo para conseguir tudo o que queria (devo afirmar Amarelinho que os meus impulsos ditatoriais começam a desvanecer), sei que muitas demandas ficarão no baú dos sonhos... Mas o curioso vem agora: por causa de saber de antemão que não vou ter tempo para tudo e que alguns sonhos vão sucumbir comigo, tento fazer tudo o que posso antes de morrer. Ler, escrever, escutar, deixar algo neste Mundo para que os outros possam deduzir quem eu fui a partir de um poema ou de um paper da minha autoria...

A escrita que guardo, as imagens que vou lembrando e o conhecimento que vou apreendendo são em todas as formas belos e fazem-me sentir bem. Tudo isto vem com o passar do tempo e com a velhice... então, como diria Murray Gell-Mann se o passar do tempo é bonito, então é porque está certo, e já não tenho medo...

1 comentário:

Anónimo disse...

Como sempre... profundo...

É agradável ver que a tua experiência fora de casa te tem moldado de um modo positivo... não devemos ter medo de não conseguir fazer tudo o que planeamos, devemos concentrar-nos em fazer bem e de um modo memorável o que conseguimos por na prática...

Dos objectivos que eu tinha traçado até aos meus 30 anos, apenas consegui realizar metade, mas sei que essa metade me moldou de um modo especial, me abriu os olhos em relação ao mundo em que vivemos, me tornou ainda mais.... de direita :)... O que não consegui, será realizado durante os próximos 5 anos :)

Sou feliz por ter conseguido isso tudo? Não, sinto-me apenas realizado. Sou feliz porque no meu percurso encontrei pessoas como tu, o césar, o vítor,..., que estiveram ao meu lado e que estarão sempre presentes nos meus planos/projectos futuros. Quando temos ao nosso lado um grupo de amigos assim, tudo o resto, incluindo o envelhecer, não tem a mesma importância.

Trans - Siberiano