17 de dezembro de 2007

Mercado...

Que horas são?
Quatro da tarde...
Temos tempo?
Sim, só fecha às oito...


Sem dar por isso dei por mim embrulhado na confusão natalícia. As pessoas caminhavam num ritual lento e compassado, de como quem já lá tinha estado antes. Corpos agasalhados com espessos casacos amontoavam-se à minha frente, faziam fila nesta ou naquela barraca sempre com boa disposição e um sorriso na face. No barulho de fundo desse fim de tarde gelado ouvia palavras familiares vindas de boas estranhas, os pregões são inexistentes, mas os produtos vendem-se bem. Avançamos ao sabor dos outros e a cidade parece que encolheu.

A fome atropelava-me o estômago, tínhamos de parar.
Pode ser já aqui... O cheiro a carne assada ia inundando a vontade...
Quantas?
Para já podem ser duas...
Duas só? Mas vocês são quatro...
Exacto.. Duas para cada um...
Alles kla...


Iam fumegando a bom ritmo. Cada hábil viradela da tenaz revelava as marcas da grelha tatuadas no manjar que se anunciava... Sabia o que fazia, notava-se nos seus movimentos a experiência de várias noites frias passadas em frente ao inferno privado de Vulcano que ele próprio acendera . Era um bailado de arregalar a vista... Duas, quatro, seis, oito, estão prontas...

Conversas atiradas ao ar e apanhadas aqui e ali por cruzares inesperados compunham a banda sonora do caminho. As árvores, despidas de folhas e trajadas de watts, iam baloiçando ao sabor da brisa gelada que vinha entrando rua a cima sem pedia licença, atropelava tudo e todos sem o mínimo cuidado, nem sequer um perdão ocasional era sussurrado...

Quando esculpiam pereciam mágicos... Arrancavam lascas mortas a pedaços de madeira toscos. Cada sopro, qual passe de mágica, revelava na medeira exposta a complexidade da forma que haviam imaginado. Só eles sabiam que vida ia nascer do estéril lenho. Quanto a nós... bem, nós observávamos com ar de ignorantes os precisos movimentos daqueles que com a sua mestria nos iam mostrando o poder da sabedoria popular...

É tarde... vai fechar....
Vamos andando...
Olha a nossa sorte! Ainda está aberto...
Olá de novo...
Olá... era mais duas... mais duas para cada um...

1 comentário:

Anónimo disse...

Aproveita bem uma das mais bonitas e tradicionais festas alemãs; com todos estes pormenores quase que sinto o cheiro do "Glühwein" que é possivel encontrar em todos os "Weihnachstmarkt" do País.

Trans - Siberiano