"Boa tarde", digo eu com ar sério ao vendedor perfeitamente barbeado que com ar ingénuo me vai ignorando. Deve ser por eu não vir vestido a rigor, ou seja, por eu me apresentar de calções coçados, t-shirt com um grande monstro das bolachas estampado e malhas de óleo na mão direita fruto do óleo da corrente que saltou antes da chegada. "Boa tarde", acaba ele por dizer, visto que não me conseguiu retirar do seu campo de visão. Olho para o carro cinza na esquina e pergunto, "queria saber quanto custa aquele ali". "Aquele ali é um Citroën 2CV" diz o responsável barbeado e, pior que isso, perfumado a rigor para ocasião. O modo como tenta pronunciar Citroën em Francês é ainda mais ridículo que o perfume que ostenta. "Eu sei de que carro se trata, mas o que eu perguntei foi o preço e não a marca ou modelo". "Bem," responde ele, "só falando com o proprietário, sabe como é, quando se trata de carros clássicos não há preço fixo". Pouso a mochila poeirenta e sento-me numa cadeira que por lá havia. "Muito bem, pergunte ao proprietário quanto custa". O vendedor responde que de momento o proprietário está numa reunião. "Percebo..." respondo eu em tom baixo enquanto me preparo para sair. "Só mais uma pergunta...". "Disponha disponha", diz o ignorante radiante por adivinhar a minha saída. "Se não me quer vender o carro pode dizê-lo abertamente, é que ao contrário dos seus colegas de profissão eu não levo a mal quando alguém é sincero".
1 comentário:
E que te respondeu? ;)
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