E aqui me sento à espera. Olhando o azul daquilo que uma vez foi céu e agora é água, um ciclo líquido e vicioso que nos mantém vivos. Se o vento se levanta aperto o casaco, se o sol espreita levanto a cabeça, se a chuva cai desapareço. Podia ficar aqui todo o dia (se não chover), triturando ideias à força de uma vontade demasiado intermitente para as realizar. Escrevo no meu caderno de comas profundos este texto para retirar a poeira das páginas. Amanhã tudo recomeça, amanhã retomo a vida, o trabalho, as fantasias de uma carreira imaterial. Que beleza é essa? Não olhes para cima... Eu estou a falar daquela beleza ali, mexendo as águas! Repara como estas parecem estar ao seu comando. Não estás a ver? Bem, se calhar foi só a minha imaginação, é normal, acontece várias vezes ultimamente. Dizem que é um sintoma, uma doença. Gostaria que assim fosse sabes, ao menos tinha uma desculpa clínica para usar. Mas eu sei que não é sintoma, é condição natural, daquelas que não têm desculpa, nem culpa... para todos os efeitos. Olha, está ali outra vez! Repara nela, que beleza, que leveza, que tristeza quando se vai. Não me mintas porque sei que desta vez também a viste... Sim, claro! Claro! Agora entendo, era o vento, era ele que movimentava as águas, era ele o sopro da beleza que vi. Sim, eu sei, parece-te ridículo o meu contentamento pela pequena brisa. Deixa lá, é da minha condição... É ela que faz a simplicidade do mundo parecer infinitamente bela quando existe demasiada incongruência naquilo que digo, penso ou esqueço. Queres uma bolacha? Olha que ajuda a apreciar a simplicidade.
1 comentário:
Die Leichtigkeit des Lebens zelebrieren)
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