20 de janeiro de 2014

Londres...

O acaso do trabalho levou-me desta vez à cidade de Londres. Pela primeira vez tive a oportunidade de vaguear no país cuja língua estudei durante tantos anos. Contrariando o protocolo decidi não pernoitar em nenhum hotel da capital. Aluguei um pequeno quarto em Twickenham a uma senhora já de idade que me acolheu de braços abertos. Londres fica a apenas 30 minutos e 5 libras de distância de Twickenham; compensando em muito o preço exorbitante que teria de pagar por um hotel no centro de Londres. Além da economia, partilhar uma casa com uma pessoa tipicamente Inglesa deu-me a oportunidade de observar de perto os costumes das gentes. Ao pequeno almoço conversámos sobre a miserável forma da equipa de cricket da Inglaterra e na segunda noite  fui convidado para um jogo de Bridge (que por motivos de trabalho tive que recusar). 

A pequena cidade de Twickenham tem os seus próprios encantos. O rio Tamisa serpenteia a cidade a uma velocidade alucinante. Tão forte é a corrente que os barcos necessitam de várias amarras para evitar serem arrastados. O ex-libris da cidade é o seu estádio de rugby, construído de raiz para a prática desse desporto em 1907. Uma visita guiada pelas suas galerias revela a caraterística que talvez melhor define a Inglaterra; o balanço entre a tradição e a modernidade. Assim sendo, enquanto partes do estádio permanecem inalteradas e os presidentes da União de Rugby constituem um gentlemen's club de leis rígidas, os balneários possuem plasmas imensos para representar os movimentos dos jogadores adquiridos durante o jogo por chips GPS presos nas camisolas.


A entrada em Londres revela uma cidade particularmente ambivalente na sua arquitectura, onde o aço deste milénio aparece entrecruzado com pedras do século XIII ! Tudo parece funcionar na perfeição, dos transportes públicos à mais vulgar logística diária. Apenas as estradas me pareceram demasiado estreitas para acolher tal fluxo de pessoas e veículos. As várias pontes que ligam as margens do rio proporcionam miradouros excelentes da azáfama quotidiana. Lá em baixo as pessoas caminham decididas para trás e para a frente, sempre educadas e prontas a ajudar na navegação de um turista de ocasião. 

É inevitável a lembrança de que estou a visitar uma cidade que possui uma rainha. Rainha essa que parece ter herdado a longevidade da ciade que a viu nascer. As formalidades em frente ao seu palácio e o charme de haver uma família real atraem turistas e súbditos de todos os cantos do mundo. Por consequência, largas quantias de dinheiro são injectadas na economia da cidade. Quanto dinheiro ao certo ninguém sabe, dada a impossibilidade de se determinar onde a economia de Londres acaba. 


O tradicionalismo Inglês gera algumas deliciosas incoerências. Ouço ao fundo do pub as notícias de que a Escócia se prepara, uma vez mais, para fazer um referendo sobre a sua independência, lá para 18 de Setembro deste ano. Esta pedra no sapato do Reino Unido dura desde aproximadamente 1800 e parece que a discussão não avançou muito desde então, uma vez que nenhum dos lados conseguiu aniquilar outro. A conversa no pub vai a favor da não independência da Escócia. Peço para participar na conversa e dar uma opinião de alguém neutro, alguém de outro pais. O facto de ser Português é bem acolhido por alguns locais que prontamente referem a sua admiração por Mourinho e Sagres! Não querendo desviar a discussão declaro que para manter a coerência qualquer Inglês desfavorável a uma maior integração do Reino Unido na Europa tem que ser favorável a uma maior independência da Escócia. A controversa durou alguns minutos mais até se diluir naquilo que mais interessava naquela noite; a discussão de quem somos, de onde vimos e para onde vamos.


Sem mais tempo para gastar fiz-me à noite para um último passeio à beira rio. O vento desdobrava-se em contornos invernais enquanto que um cheiro doce enchia o ar. Na entrada da Millennium Bridge um homem vendia amendoins caramelizados. Compro um pacote e sento-me no meio da ponte de face voltada para o Atlântico, oceano que não se vê mas sente. Ao fundo as pessoas vão produzindo conversas das quais só ouço suspiros, suspiros num sotaque afável e do qual sentirei falta. 


 

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