3 de abril de 2012

Secar o Mediterrâneo: Atlantropa

Por alguma razão lhe chamaram "os loucos anos 20". Corria o ano de 1927 quando o arquitecto alemão Herman Soergel se lembrou que seria uma boa ideia fazer baixar o nível do mar Mediterrâneo (ver mapa abaixo). Os principais objectivos de tal empreendimento eram a produção de energia eléctrica em larga escala, o aumento do território terrestre dos países mediterrâneos e facilitar trocas comerciais com o norte de África.

A ideia era simples mas de execução complexa. Um complexo sistema de colossais barragens teria de ser construído ao longo dos estreitos de Gibraltar e Dardanelos. O controlo do fluxo de água que alimenta o Mediterrâneo resultaria em enormes quantidades de energia hídrica produzida. Estimativas apontam para números entre o 160 000 e 360 000 mW! Para terem uma ideia a actual maior barragem do Mundo tem uma potência instalada de aproximadamente 1400 mW.

Como consequência do fecho dos estreitos, o nível médio do mar Mediterrâneo baixaria cerca de 200 metros - efeito combinado do reduzido fluxo de água e evaporação. Isto levaria à "criação" de 600000 km^2 de terra firme, ou em outras palavras, 6.5 vezes a actual área terrestre de Portugal. Devido ao teor de sal acumulado no processo de evaporação a terra não seria de todo fértil. O recuo do nível do mar permitira no entanto ligar o sul da Europa ao Norte de África, algo que facilitaria as trocas comerciais. A ligação seria provavelmente feita via Itália e Tunísia através de uma hipotética ligação ferroviária entre as cidades de Villa san Giovani - Messina - Marsala - Al Haouaria.



No fim do dia Atlantropa é apenas um reflexo do seu tempo. O fruto de uma Europa cuja a economia renascia em força após o fim da primeira guerra Mundial e de uma Europa marcada pelo estabelecimento de sistemas políticos radicais - amantes feverosos dos grandes projectos de engenharia.

Atlantropa é também o desejo humano de domar o Mundo através do betão (elevado quem sabe ao seu expoente mais alto). Um sinal que passou despercebido nos anos 20 mas cujas ecos perduram nos dias de hoje.

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Trans - Siberiano