6 de janeiro de 2012

Histeria emigrante...

Durante a minha estadia em Portugal por altura do Natal senti quase como que uma histeria disfarçada no que toca às declarações do Sr. Primeiro Ministro incentivando a emigração de jovens. Pelas ruas e cafés fui escutando muitas conversas desprovidas de sentido e quase sempre baseadas em proposições falsas.

Portugal sempre foi um país de emigrantes, o que mudou foram apenas o contexto em que esta se realiza. Se nos anos 60/70 o contexto era a perseguição política, a guerra, ou a busca de melhores rendimentos no presente o contexto é o mercado de trabalho globalizado ou a falta de emprego. Independente das épocas consideradas, a emigração foi quase sempre protagonizada por jovens (apesar de jovens ser um termo abstracto vamos assumir pessoas entre os 20 e 30 anos) sendo que o uso do termo é redundante e claramente exacerbado pelos media. Escutei noticias na rádio e televisões sobre uma geração inteira que terá de emigrar. Uma geração com a qual o estado teve encargos na sua formação e que agora abandona o país. Nada mais rebuscado e longe da verdade.

Na verdade, foi durante o período de formação da geração que agora foi incentivada a emigrar que o Estado iniciou um período de desresponsabilização nos encargos com a educação. Basicamente, são agora os alunos e país que financiam a educação superior via o pagamento e aumento de propinas a partir de 2000/2001. É verdade que já lá vai mais de uma década mas é preciso recordar que em tempos passados o ensino superior era basicamente gratuito.

(Uma casa Portuguesa)

A segunda ideia errada é a do abandono do país. Uma vez mais os canais de comunicação ficam presos numa lógica temporal de curta visão. Esqueçem que quem tem neste momento 20/30 anos trabalhará em média mais 50/40 anos (assumindo que o ano de reforma será 70 anos dentro em breve). É impossível saber qual a contribuição líquida, quer para a sociedade quer para a economia Portuguesa, que o emigrante HOJE terá dentro de MEIO SÉCULO! Quero com isto dizer que o facto de o jovem estar fisicamente fora de Portugal não implica o abandono de Portugal. Dou um exemplo concreto. Recentemente participei na elaboração de uma proposta de financiamento juntamente com a Universidade de Aveiro com vista à realização de um projecto de investigação nas zonas costeira de Portugal e Brasil. A pessoa com quem contacto dentro da Universidade de Aveiro é Holandesa e conheci-o numa conferência em Lisboa. Ainda não sabemos o resultado final da nossa proposta mas caso seja aceite resultará na distribuição de fundos de investigação para pelo menos cinco países distintos, entre eles Portugal. Assim sendo, uma percentagem do meu trabalho na Alemanha terá dividendos em Portugal, isto não é nada mais nada menos que uma espécie de mercado científico, que, tal como o mercado monetário, é hoje em dia global.

De referir também que a histeria emigrante não se verifica só em Portugal. Também nas comunidades já estabelecidas no estrangeiro se tem assistido a declarações exacerbadas. Como retaliação pelo fecho de alguns consulados na Alemanha, houve propostas de suspender o envio de fundos para bancos Portugueses por parte de alguns trabalhadores emigrados, em particular na cidade de Osnabruek. Pena que assim seja. A atitude, caso se venha a concretizar, demonstra um pseudo-nacionalismo irritante referente à manutenção de uma estrutura (consulado) que não é essencial quer para exercer a actividade profissional, quer para divulgar a cultura Portuguesa. Acredito no entanto que os consulados podem cumprir estas tarefas em países fora da União Europeia. Lendo o grande Torga. Encontro uma passagem que reflecte bem toda esta situação. Um Francês quando parte leva na sua mala Satre para se sentir em casa, um Português até as lages da lareira levaria.

1 comentário:

Anónimo disse...

Palavras tão acertadas!
Daniela

Trans - Siberiano