29 de janeiro de 2009

Um pouco sobre Marx...

Interessantes tempos estes em que vivemos. A minha geração em Portugal não conheceu nenhum outro sistema económico que não o dito liberalismo económico e não conheceu nenhum outro sistema político que não o democrático. A minha geração cresceu com a União Europeia em plena expansão, com uma afirmação dos valores Europeus à escala Mundial, vimos muros (físicos e culturais) cair, vimos sistemas colapsar e países como a Irlanda e Espanha ultrapassar Portugal nos indicadores de desenvolvimento em escassos 10 anos. A minha geração cresceu com um sistema Universitário que não teve paralelo até então em toda a história do País, nunca houve tantos licenciados como agora, assim sendo em teoria, Portugal nunca foi tão esperto como agora.
Apercebo-me agora que a minha geração cresceu num tempo de impressionante estabilidade política e financeira. Esta estabilidade foi à escala Mundial, apenas algumas guerras perturbaram a nossa paz, longe demais para se fazerem sentir e nunca o espectro do totalitarismo assombrou as nossas vidas. Com todas estas facilidades sou levado a pensar que nós nunca aprendemos muito sobre as velhas histórias do Mundo, velhas que agora se tornam novas com a dita crise, mas que eu prefiro chamar de ajustamento.

Não há muito tempo fui a uma conferencia em Berlim sobre arequitectura, um sítio improvável para discutir assuntos económico e políticos pensais vós, no entanto deparei-me com um dos oradores que tive o prazer de conhecer mais pessoalmente na pausa para o café. Assim, como quem não quer a coisa, juntamos um grupo de ilustres desconhecidos para discutir, imaginem ...Marx...

Foi claro durante a discussão que eu não dominava a fundo a visão economicista de Marx. Inocentemente perguntei então, relativamente a este ajustamento que o Mundo atravessa, se tal crise seria possível se os Países durante o último meio século tivessem enveredado numa política económica tipo Marx... A resposta dos outros foi simples.... Sim. Não há sistema económico perfeito e as crises sucedem-se naturalmente. Basta lembrar o Grande Salto (1958-1960) de Mao Tsé-Tung que preferiu a produção industrial à agrícola trazendo a fome à China... Outras crises semelhantes tiveram lugar em Países apoiados num sistema Marxista extremo, embora fique por avaliar conclusões sobre Países onde tal doutrina não foi interpretada com tanto rigor. Ainda assim a resposta é clara... Ajustamentos acontecem independentemente do sistema económico em vigor...

Então, perante este ajustamento onde o neo-liberalismo económico se transmuta para algo ainda definido fiz outra inocente pergunta... Será que o capitalismo vai morrer? Eis que então houvi aquela que foi na altura a frase do dia, a qual transcrevo na íntegra e com a respectiva asneira pois só assim faz sentido, perdoem-me as almas mais sensíveis.

Phillip - "Luís, Marx preveu muita coisas e em algumas ele até estava certo, mas nunca percebeu a real força do Capitalismo. A grande força do Capitalismo é conseguir fazer dinheiro apartir de qualquer coisa, até merda"


Ainda nas palavras dos companheiros de discussão. Num ajustamento como o que vivemos agora é preferível um sistema flexível que um rígido, um sistema onde se pode translocar facilmente capital do que um onde o capital é bloqueado por decisões políticas. Além do mais, uma economia liberal onde os investimentos e despedimentos se possam fazer rapidamente de modo a evitar males maiores é preferível. O que temos de salvaguardar é o direito à dignidade daqueles que perdem sem culpa o seu emprego. O liberalismo económico desenfreado não salvaguarda este ponto, mas.... quem salvaguardou os milhares de desempregados quando em 1991 Gorbachev pôs um ponto final na URSS e a indústria colapsou? Uma balança tem sempre dois pratos, e em nenhum deles conseguimos colocar sempre tudo o que queremos...

Abraços

Sem comentários:

Trans - Siberiano