17 de julho de 2014

Um Mundial ultrapassado...

Terminou no passado domingo o vigésimo campeonato do Mundo de futebol de onze, "parece" que ganhou a Alemanha. Digo "parece" entre aspas uma vez que o campeonato do Mundo de futebol de onze tem como unidade competitiva um conceito que não é fácil de delimitar - o conceito de país. 


Nos tempos que correm não é preciso nascer nem jogar num país para se poder jogar o Mundial de futebol de onze por esse mesmo país. Não é preciso falar a língua, nem é preciso sequer saber jogar, a julgar pela actuação dos jogadores que foram representar Portugal. Toda esta flexibilidade é boa e saudável, uma vez que ninguém deve ser impedido de ser campeão do Mundo de futebol de onze só porque teve o azar de nascer numa nação de dimensão futebolística ridícula, que o diga Gareth Bale. Este, se tivesse a ambição e alguma inteligência, poderia facilmente ser naturalizado por um país que lhe desse a oportunidade de brilhar num Mundial. Ou então que o diga Cristiano dos Santos Aveiro. Se este tivesse nascido em Espanha, certamente já seria campeão do Mundo e da Europa de futebol de onze.

Se olharmos bem o caso de Cristiano Aveiro podemos notar o quanto ultrapassado o conceito de país é quando se trata de categorizar um jogador. Dos 386 jogos em ligas profissionais que contabiliza nas suas chuteiras rosa, Cristiano apenas jogou 25 destes na primeira divisão Portuguesa (ou lá como se chama agora) . Ou seja, aproximadamente  94% da sua carreira teve lugar num outro país que não Portugal. Será que podemos dizer que Cristiano é um jogador de Portugal? Podemos, mas é altamente redutor. Cristiano é, isso sim, um jogador de formação Inglesa e competitividade Espanhola que por obra do acaso nasceu na Madeira.

O ser jogador Português não existe (excepto numa lógica judicial). Apenas usamos a designação porque a mente do ser humano é limitada e sente sempre a necessidade de definir um sistema, mesmo que isso implique a incoerência. O mesmo pode ser dito para os outros países. Hoje em dia não existe o jogador Alemão, Espanhol ou Françês. Um jogador que nasça na Alemanha e que nunca deixa de jogar na liga Alemã não é necessariamente um jogador Alemão. Facilmente o seu treinador  poderá será Espanhol, o seu preparador físico Holandês, os seus colegas Brasileiros e Italianos. O clube que lhe paga o salário será detido por empresários Sauditas ou bebidas energéticas Austríacas. Todo o ambiente em volta de um jogador molda a sua performance e como tal, nos dias de hoje, atribuir a um profissional de futebol de onze um carimbo territorial é altamente redutor. 

Existem campeonatos do Mundo onde o ultrapassado conceito de país não se aplica para definir a unidade competitiva - o campeonato Mundial de Fórmula um. Este campeonato, avançado para o seu tempo, assenta numa base empresarial. É um campeonato do mundo de investidores e quase não interessa o passaporte do indivíduo. É normal existirem membros de dez ou mais países na mesma equipa. Se olharmos à rede de fornecedores, então teremos quase a maioria das nações representadas. Do chip de combustível Tailandês, ao software Koreano ao piloto Sueco. Uma grande vantagem de um futuro campeonato do Mundo de futebol de onze assente numa base empresarial, seria a de contornar sentimentos nacionalistas arcaicos, camuflado por um "orgulho" que ninguém sabe definir e que não raramente está na origem de atitudes ridículas.

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