27 de agosto de 2013

Cartazes eleitorais...

Em termos nominais, sou o primeiro a conceder que Portugal tem tantas coisas boas como a Alemanha tem coisas más. Na mesma medida, Portugal tem tantas coisas más como a  Alemanha tem coisas boas. Nominalmente é assim. O problema é que existem coisas más e... coisas más. 

Uma coisa má que vi em Portugal recentemente é o modo amorfo e quase pueril em como vários partidos concebem os respectivos cartazes eleitorais. Em Vila Real os cartazes são na sua maioria exercícios de photoshop elevados ao expoente da loucura (perdão aos Ornatos Violeta pelo plágio) convenientemente adornados por frases com pouco ou nenhum sentido. Mais do que esteticamente aborrecidos, as mensagens que tais cartazes carregam são amplamente... inexistentes. E é precisamente na inexistência da ideia que a prática de tais cartazes é má. Talvez valha aqui a sábia máxima, oriunda ninguém sabe bem de onde, de que nas autárquicas "vota-se na pessoa". Assim sendo o importante é dar a conhecer a cara. Mas a cara carrega em si uma personalidade e a personalidade carrega em si uma ideia e essa ideia. Ainda que a ideia seja uma ideia mentirosa ou infinitesimal ela tem que ser expressa. Antes uma ideia mentirosa do que uma ideia inexistente, uma vez que a ideia mentirosa pode ser posteriormente julgada e a inexistente não. Além do mais todos os candidatos sabem que uma alma pura é uma pura mentira (perdão a Nietzsche pelo plágio) e por isso deviam ser contra tais manifestações gráficas de "pureza".


Neste aspecto o contraste entre Potsdam e Vila Real é claro. Em Vila Real os cartazes falam em "avançar",  "ciclo" ou "energia", em Potsdam o debate é feito de ideias concretas. Uma delas que me chamou à atenção refere-se à problemática da falta vagas nas creches, um problema real para muitas mães.

No cartaz a cima o SPD (imaginem que é o PS de Portugal) é claro naquilo que se propõe fazer. Literalmente, "Nós... por mais vagas nos infantários". Directo, simples, concreto. Mentira? Pode ser que sim, isso só tempo o dirá. O que quero sublinhar é que o cartaz é composto por um problema tangível e um grafismo quotidiano; uma mãe, uma criança.  Não existem aqui grandes egos faciais. Já o cartaz dos Gruene a baixo (imaginem são com Os Verdes em Portugal mas com juízo) é ainda mais delicioso. Invocam com ironia um dos pilares do partido conservador (dai recorrerem à imagem de Merkel) cuja ideologia se centra na família. Literalmente, "Vagas nos infantários?  Não têm avós?"


Numa perspectiva mais nacional que dizer do cartaz dos Die Linke (imaginem que é o BE de Portugal)? Directo, provocativo e transparente. Uma rajada de promessas que se estende da criação de salário mínimo à proibição de exportar armas. Promessas simples e que não acarretam consigo a necessidade de uma revolução. Podemos discordar das propostas, mas é difícil ignorar a precisão com que as mesmas são apresentadas.

O vazio dos cartazes em Vila Real é constrangedor. Neste aspecto em particular gostaria que Vila Real fosse um bocadinho mais como Potsdam. Estou no entanto contente por não ter a difícil tarefa de votar em palavras tão abstractas. Talvez os programas eleitorais em Vila real sejam o inverso dos cartazes apresentados. Quanto a isso não me posso pronunciar porque não os li, mea culpa... reporto a campanha que se vê na rua, a campanha que vulgo ser a  mais decisiva.

2 comentários:

Anónimo disse...

Esta semana dei por mim, enquanto percorria o país, a pensar precisamente o mesmo...
o vazio dos cartazes eleitorais.
Frases como "um presidente, um amigo", " em frente", "não podemos parar", "pela cidade", "pelas pessoas", "unidos" ... e outras tantos cartazes que não dizem nada, e na verdade dizem tudo... Ideias inexistentes!
A formatação eleitoral, o pacote típico das eleições, a mostrar ao eleitor, que não pede nada, mas leva com tudo, cartaz com fotografia e com slogan, músicas fracas a cantarolar nomes desconhecidos, correio cheio de flyers com textos trabalhados, que mais uma vez não dizem nada e ao mesmo tempo dizem tudo, salas alugadas em locais estratégicos, rotundas e praças invadidas por caras sustentadas em andaimes como se fossem os primeiros a pisar aqueles locais! Que tudo isto desencadeie emprego e traga negócio, pago se possível, a fotógrafos, designers, empresas de andaimes, gráficas e aos "cola cartazes"...

Mas no fundo aguardo impacientemente que as cidades ganhem novamente o seu estado natural, que as praças e rotundas deixem cair todas as caras sérias e outras sorridentes(e que tudo seja limpo, e se possível reciclado)... e que o único slogan que fique no pensamento seja "enfim..."

pmguerra disse...

A revista do Expresso desta semana faz exactamente esse retrato. Pegando num publicitário que tem um programa de TV na Sic Radical chamado "Filhos da Pub", ele percorreu o país de Norte a Sul para avaliar os cartazes.
Vagos (a cidade) ganhou o Prémio de Cartazes "Vagos" (trocadilho fácil mas pungente), Sintra e o cartaz de Nuno da Câmara Pereira " 'Sintra' a diferença"!
Pessoalmente, gosto do cartaz à porta de minha casa, em Matosinhos, autoria PSD: "Pelo Partido Socialista ou como independentes, eles querem é poleiro!" - isto a propósito de o actual Presidente ter sido eleito pelo PS mas concorrer agora como independente contra o candidato do próprio partido.
Bom post, como sempre ;)

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