26 de agosto de 2012

Pluralidade a 2...

Estaria a mentir se demonstrasse aqui surpresa sobre o anúncio do possível encerramento da RTP2. De um momento para o outro, nas notícias, redes sociais etc, o pequeno canal de televisão tornou-se mais visível do que nunca. Se no mês passado se perguntasse a 100 pessoas a que horas é o serviço informativo na RTP2 apenas uma responderia 22:00. Hoje, todas sabem pelo menos que a RTP2 existe e que até pode ser acedida através de um botão no comando!


Não existe exemplo paralelo na televisão de canal aberto em Portugal de outro canal onde a heterogeneidade de conteúdos seja tão grande como no casso da RTP2. Foi nesse canal que descobri o valor das curtas metragens, programas sobre o mar, assisti a teatro e concertos sem sair do sofá, ri com comédia Britânica, vi a primeira qualificação de Portugal para um Mundia de Andebol em 1997!, as intermináveis tardes de Agosto com o Tour, o telejornal que consegue em 30 minutos dizer mais que os de hora e meia nos outros canais. 


A notícia do possível encerramento (ou privatização) era algo que aguardava à vários anos, principalmente porque a RTP2 representa em Portugal último bastião da pluralidade de expressão que podia ser acedido a "quase" custo zero. Ora como vivemos numa época onde a liberdade se sobrepõe à pluralidade de expressão estava fácil de adivinhar o desfecho do pequeno em dimensão mas grande em conteúdo canal de televisão.

Sem pluralidade vamos ter que nos sujeitar a programas ditados pelas leis do mercado, mercado que é livre e promove a liberdade de expressão. Isto significa que vamos ter que ouvir disparates atrás de disparates, primeiro porque somos livres de o fazer, segundo porque o disparate vende e se vende passa na televisão. O bom senso não vende, e por isso tinha sido à vários anos afastado dos outros canais generalistas e encontrado refúgio na RTP2. Não quero dizer com isto que não havia programas inúteis na RTP2, claro que os havia, nunca percebi porque era por vezes forçado a ouvir Jazz (algo que detesto). No entanto os programas inúteis co-existiam numa matrix onde lhe eram reservados apenas uma ou duas horas diárias. Este é o  grande poder da pluralidade em vez da liberdade, ou seja:  todos são ouvidos numa fracção equivalente. A liberdade de expressão, pelo contrário, lado favorece o mais forte, o que tem mais recursos para controlar os canais de informação.

Saudosismos à parte, a verdade é que a RTP2 foi durante largos anos o canal que televisão que via com mais regularidade. Seja qual for o futuro da RTP2 (fecho, privatização, etc), o canal morre com a certeza de ter sido o único que sempre  serviu com qualidade a sua sempre fiel audiência.   


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