23 de abril de 2012

O império VW

Num mundo feito de conexões imateriais torna-se muito importante avaliar qual a influência que o fenômeno A tem no fenômeno B. Passando dos termos conceptuais para termos reais pergunte-se: qual a influência do estado da baixa-saxónia no automóvel comprado em Portugal? Em poucas palavras a resposta é muita, mas convêm descortinar  de que modo e quais os intervenientes que fazem tal ligação possível. 
O grupo VW para quem não sabe é um "monstro" Alemão no que ao volume de produção automóvel diz respeito. Não sei como é que União Europeia permite que a Volkswagen AG seja detentora de nada mais nada menos que 10! marcas repartidas em automóveis, pesados e motociclos. Sim, 10! E mais, todas as marcas controladas pela VW são Europeias - o que nos leva a pensar para que serve afinal o artigo 81 sobre competição no mercado Europeu expressa no tratado de Roma? Mas vamos em frente.

O caso é ainda mais gritante quando em 2009 a Porsche se aventurou a lançar uma oferta de compra sobre a VW. O caso gerou tanto barulho que o tribunal Europeu foi chamado ao assunto. Tudo porque o estado da baixa-saxônia (onde a VW tem a sua sede) pode exercer uma minoria de bloqueio a qualquer oferta de compra sobre a VW, apesar de o estado apenas deter 20% das acções.  O tribunal Europeu prontamente puxou as orelhas à Alemanha pedindo a revisão de tal lei.  A Alemanha não tem outra saída que não seja rever a lei...

E agora o golpe de teatro. Num momento de inspiração o governo Alemão decide retirar o privilégio da minoria de bloqueio detido pelo estado da baixa-saxônia, no entanto substitui esse direito com uma clausula: decisões importantes (tipo compra) da empresa VW têm que ser tomadas por mais de 80% dos accionistas. Ora... estão a ver algo de familiar nesta "nova" lei? O resultado líquido da artimanha é que o estado da baixa-saxônia permanece com o controlo efectivo da VW. Mas o mais extraordinário é que as alterações à lei parecem agradar ao tribunal Europeu e o negócio da compra da VW por parte da Porsche vai por água abaixo. 

O que significa a detenção de 10 marcas pela VW para o consumidor? Significa que não existe competição real entre modelos de automóveis que pertençam ao mesmo grupo. A AUDI nunca vai construir carros no mesmo escalão de preços que a SEAT. A SKODA nunca irá competir com a SEAT em termos de modelos ou mercados e a Porche vai ter que se sujeitar às regras impostas pela VW para não ameaçar a fatia de mercado da Lamborgini por exemplo. O consumidor ganha alguma coisa? Talvez, mas não sei quantificar, muito simplesmente porque não existe real concorrência entre as marcas. 

E assim é. O cidadão da baixa-saxónia decide em último caso que o GOLF que se vende em Vila Real não tenha o motor 1.2 TSI (mais econômico) que podemos encontra por exemplo no LEON ou IBIZA.  



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