31 de janeiro de 2012

As implicações espirituais da desorganização...

Gosto por vezes de ir recordar as notas soltas que voou escrevendo aqui e ali em pedaços de papel fragmentados pela minha desorganização perene. Quando tenho a sorte de encontrar esses pedaços de papel primeiro rejubilo depois entristeço. Rejubilo porque penso nas possibilidades que eles abrem em viajar no tempo; um, dois, quem sabe três anos atrás! Momentos esquecidos sentado à espera de mais um avião, num café a olhar a chuva molhar as pessoas ou em Vila Real saboreando bolos de arroz e sumos de laranja matinais. Entristeço devido à dificuldade que tenho em os ler. A caligrafia indomável, as meias palavras que na altura de certo tinham significado mas que agora são hieróglifos sem chave. Hoje tive a sorte de encontrar um desses fragmentos de mim que vagueiam por entre livros arrumados na prateleira, bolsos de casacos que uso de longe a longe ou enterrados nas profundezas abissais de gavetas desordenadas.

Li nele a seguinte interrogação: "Pode alguém mudar as suas características mais profundas, aquelas que de algum modo definem o "ser individual" de cada um de nós? Poderei ambicionar alguma vez na vida em ser organizado? Fazer a minha mala duas noites antes da partida e não quatro horas antes de me apresentar no terminal para depois descobrir, a 9000 km de distância, que estou na América Latina e que as tomadas de electricidade são de origem alienígena. De ter a certeza que recebi o meu número das finanças, que o coloquei na prateleira de cima junto ao contos de Eça de Queiroz e que lá ficou até se evaporar no preciso momento em precisei dele."

O resto da página só contém rabiscos incompreensíveis e mais uma nota de rodapé. "Implica também saber quais as consequências líquidas da desorganização vs organização. Exemplo: Por não poder carregar o meu computador (uma vez que não tinha adaptador para a tomada) fui obrigado a usar os serviços de Internet do hotel onde conheci por acaso Suma Ching Hai com que travei uma interessante conversa que me valeu uma boleia no seu Mercedes. Isto sim, daria um bom artigo científico!

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