1 de setembro de 2011

O dantes...

Uma das coisas que mais me chamou à atenção nestes primeiros dias em Portugal foi a noção de "dantes". Na TV, nos jornais ou nas conversas de rua, em todo o lado existe esta ânsia de um regresso ao "dantes". O "dantes" pode assumir varias formas e aposto que todos nos já usamos pelo menos ma delas. As formas podem ser várias, umas mais simples e vagas (ex. primeiro, antigamente), outras mais elaboradas e precisas (ex. no meu tempo, quando isto estava bom) e outras descabidas de bom senso (ex. no tempo de Salazar). Seja qual for a forma sob a qual o "dantes" se manifesta devemos reflectir do porquê de tal obsessão com o passado.


Ainda ontem vi com curiosa atenção uma reportagem sobre a história dos estaleiros de Viana do Castelo. Foram cerca de 30 a 40 minutos de um marasmo total. Durante a peça jornalista começou com um erro de principiante, o jornalista não foi de todo imparcial. A parcialidade não se mede só em termos argumentativos, a imparcialidade tem também um carácter temporal. Quero dizer com isto que o jornalista que conduzia as entrevistas tomava como adquirido que o "dantes" é que era bom e que o agora era mau e o futuro ainda pior. O que se procurava era compreender, contar, julgar, como os estaleiros tinham perdido tanta importância na economia local e nacional em tão curto espaço de tempo (meados dos anos 80 até presente). Não se procurou saber o que será o futuro dos estaleiros, que oportunidades existem, qual um possível comprador, qual a estratégia/s para uma nova estrutura da empresa, quais os principais produtos navais que vão ser importantes daqui a 20 anos e se os actuais estaleiros (caso sobrevivam) têm condições de satisfazer eventuais pedidos. Nada disto foi explorado ou contado. Em vez, tivemos de assistir a coisas de pouco interesse, o casal que se enamorou na fábrica, o senhor que viu o navio Gil Eanes ser construído etc etc... Ou seja, um regresso ao "dantes" que não existe nem voltará a existir.

E assim vamos contentes, inebriados por um passado que não volta na resistência de um presente carregado de incompreensão. O medo do futuro? Esse advém pura e simplesmente em acreditar que o passado é sempre melhor.

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