14 de julho de 2009

Os "ocupas", uma casa e os efeitos secundários do liberalismo...

Um colega do instituto vive numa casa com mais 13 pessoas, aquilo que em Portugal se chamaria uma república ou coisa assim. Nesta casa moram pessoas adeptas das teorias Marxistas e profundos críticos de Adam Smith e demais pensadores liberais. A casa não está em boas condições e o dono aproveitou a deixa da remodelação para tentar vender a casa e fazer um grande negócio. Digo grande porque, apesar da casa não valer um tremoço,(como podem ver) , esta está situada numa zona in da cidade e é grande a especulação de empresários que tentam construir novos empreendimentos para a galopante classe média/alta de Potsdam.


O meu amigo, em conjunto com os restantes membros da casa, decidiram tentar comprar o prédio pois como inquilinos gozam de preferência contractual. O problema é que eles não são propriamente o tipo de pessoas amigas do capital, além do mais são todos ou quase todos estudantes. É então possível comprar uma casa sem dinheiro? Numa sociedade liberal pelos vistos é.

O meu colega e os seus 13 amigos foram a um banco tentar um empréstimo para a casa. O banco pediu então uma garantia de não sei quantos mil euros para poder contrair o empréstimo pois o investimento era de alto risco, aliás, este grupo desafia a própria definição de investimento de risco. Uma parte do empréstimo será deduzida nas futuras rendas que terão de ser pagas ao banco mas a questão da garantia ainda estava em aberto.
Os bravos 14 decidiram então pedir dinheiro a todos os amigos, conhecidos, desconhecidos etc etc de Potsdam e Berlim. No meio dessa malta toda estava eu.

Decidi então comprometer-me em transferir todos os meses uma certa quantia de dinheiro durante dois anos para o banco de modo contribuir para o fundo de garantia. Surpreendentemente eles conseguiram que 36 pessoas fizessem o mesmo. O empréstimo foi feito e agora a casa já não será vendida para se construir uma vivenda de luxo ou coisa parecida...

Porque decidi ajudar este grupo curioso?


A verdade é que gosto da casa e das gentes. As festas por lá são do melhor, boa música, boas discussões, entrada à borla, bolachas a custo zero etc etc... Outra das razões pela qual decidi ajudar o meu colega foi o facto daquela zona de Potsdam estar a caminhar para um sítio onde a classe média/alta reina. Aquele gupo de 14 injecta variabilidade na população, introduz barulho numa rua asséptica e sossegada, é como que uma mutação saudável, se todos caminharmos de mãos dadas no mesmo sentido da especiação excessiva nada de bom acontece.

Ou muito me engano ou o futuro da rua seria um mar de impecáveis cabeleiras loiras, pessoas bem vestidas e atrocidades automobilísticas como esta. Deste modo a U-24 (nome pela qual a casa é conhecida) continuará a ser um sítio de livre expressão, irreverência e com montes de esquerdistas para "chatear"... Com o bónus de se poder encontrar coisas como esta estacionadas em frente.

Na verdade, eu tenho como vizinhos da frente um bando parecido e acreditem que é uma risada. Desde números de circo no meio da estrada, Guevaras pintados nas paredes e polícia a tentar apanhar um indivíduo num mono-ciclo já quase tudo aconteceu...

Viva a diversidade...
Abraços...

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