29 de abril de 2008

25 de quê?


Comemorou-se na passada sexta feira mais um aniversário da revolução dos cravos, o 25 de Abril. Sinónimo de liberdade para uns, sinónimo de fim de semana prolongado para outros e, sinónimo de reflexão para o Presidente da República Portuguesa. No seu habitual discurso na Assembleia da República, o Presidente focou o desinteresse dos jovens pela vida política e o abandono progressivo da memória do que foi o 25 de Abril.

No seu, diria até, excelente discurso, não se esqueceu de afirmar que o 25 de Abril "não é monopólio de uma geração nem de uma cor política" e que uma parte substâncias da população de hoje "não era nascida antes do 25 de Abril". Estas duas afirmações explicam, em parte, a questão do alheamento dos jovens sobre o que significou o 25 de Abril de 74. Queria no entanto trazer para este blog mais um dado que, a meu ver, faltou no discurso do Presidente da República. Não foi invocada uma diferença fundamental entre o pré 25 de Abril e o pós 25 de Abril, vou-lhe chamar a "diferença do inimigo".


Perdoem-me todos aqueles que vêem no pré 25 de Abril uma época de luta ideológica e política difícil, eu simplesmente não partilho da mesma opinião. Um jovem nascido no regime fascista de Salazar tinha opções muito limitadas mas ideológica e politicamente fáceis, vejamos.

Um jovem podia:
-Nascer no seio das elites que incorporavam o regime, só tendo que abraçar a sua ideologia, ou então nada fazer contra, de modo a preservar o seu apetecível estilo de vida
-Nascer no meio pobre e rural, longe dos pensamentos progressistas de liberdade. Este jovem viveria conformado na sua terra, sem ligar a questões políticas porque simplesmente não se via reflectido nelas, ou, mais importante ainda, estava tão ocupado com a mera sobrevivência que as questões ideológicas eram ignoradas.
-Nascer rodeado de ideais de liberdade numa comunidade progressista e inconformada. O seu caminho muito provavelmente seria a luta contra o regime na figura de António de Oliveira Salazar

Reparem que todas as opções revelam uma facilidade ideológica e política imensa. Ora contra, ora resignado, ora a favor.


Com a queda do regime, as condições de vida em Portugal melhoraram consideravelmente. A economia cresceu, a educação deixou de ser privilégio das elites e os serviços foram modernizados. As pessoas passaram a viver numa Democracia Parlamentar, um sistema onde qualquer um, independentemente das suas origens, pode aspirar a ver o seu ponto de vista representado. A Assembleia da República é um cadinho de opiniões económicas e sociais. Estão representados inúmeros actores da sociedade e inúmeras ideologias.

De uma estrutura simples (totalitarismo) e acções previsíveis (contra, resignado e a favor) passamos para o complexo (pluralismo democrático) e incerto. É nesta incerteza da "diferença de inimigo" que reside, a meu ver, mais um facto do desinteresse dos jovens pela política. Hoje em dia já não existe um inimigo, talvez já nem exista nenhum, ou então talvez existam muitos.


Hoje em dia vivemos num Mundo globalizado e não comprimido como no tempo dos nossos pais. Uma acção política, que muitas vezes não controlamos, fora de Portugal tem repercussões no nosso modo de vida. Talvez esta imprevisibilidade de Portugal e do Mundo leve os jovens a desprender-se de algo onde não se revêem.

Sou da humilde opinião que o difícil é encontrar uma direcção, porque lá diz o povo, eles são todos iguais. Se derem uma direcção os jovens eles interessam-se por política, uma direcção que hoje não existe, algo que no pré 25 de Abril era claro.

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito bem Luis! Uma reflexão sintética mas muito bem conseguida!
Um abraço desde Vila Real,
José Alcides Peres

Trans - Siberiano