No Domingo de Páscoa o tradicional pão-de-ló marcou presença aqui em casa. Como é costume cada vez que faço um bolo, grande parte deste é oferecido aos colegas de trabalho no dia seguinte. Enquanto batia as gemas de 6 ovos com o açúcar, dei por mim a pensar na simplicidade da doçaria conventual; ovos, farinha, açúcar, aqui e ali amêndoa. Destes ingredientes essenciais nascem refinadas iguarias. No Minho suspiros de Braga, no Douro cavacas de Santa Clara, em Trás-os-Montes toucinho do céu, na Beira Litoral ovos moles. De tão minimalista que é, a doçaria conventual Portuguesa está em claro contraste com um povo que pela Europa fora em a fama de ser exuberante e fanfarrão. Ao restringir o número de ingredientes, a doçaria conventual dispensa o assessório, o espalhafatoso. Pelo contrário, a doçaria Alemã privilegia a imagem. Diria até, perdoem-me os puristas, que a doçaria Alemã é estilo barroco ou rococó. Misturam-se nesta terra pudim, frutos, chocolate, bolo e natas com toda a força em construções dignas de fotografia e nome a condizer, Schwarzwälder Kirschtorte.
É claro que ambas as tradições são louváveis e os resultados apetecíveis. Mas para mim a doçaria Alemã não se consegue libertar de uma certa dose de schnickschnack, expressão Alemã para descrever aquilo que é assessório, redundante, show-off. Parece-me evidente que a doçaria de ambos os países são como que o inverso dos adjectivos com que costumamos qualificar o povo que as elabora. Acabo o meu pão-de-ló, orgulhoso por ter crescido tanto. Polvilho-o com açúcar em pó de modo a este parecer mais apetecível a uma nação cuja a simplicidade, por vezes, não cai bem...
1 comentário:
Realmente muito interessante esse contraste entre a doçaria e os restantes traços da sociedade. Gostei de ler caro amigo alemão :) Coelho
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