Nesse espaço peculiar entre o partir e o ficar, fez a sorte da ilha Usedom o destino para umas curtas férias de Páscoa. A viagem foi feita usando o anonimato que o Inglês oferece, escutando aqui e ali quatro horas de peripécias Alemãs tão familiares quanto estranhas num comboio apinhado de gente e egos. Estava curioso por visitar a ilha de Usedom uma vez que se trata de uma raridade cartográfica, coisa que este blogue aprecia. Usedom é a terceira maior ilha Europeia (logo a seguir à Irlanda e Chipre) cuja soberania é repartida por dois países. Aproximadamente 80% da área pertence à Alemanha enquanto que os restantes 20% são administrados pela Polónia. Mas para além desta carolice que não interessa quase ninguém Usedom brinda os viajantes do seu frio glaciar com dois titãs adormecidos, tão antagônicos na sua gênese e história que parece surreal partilharem a mesma localização.
Na extremidade da ilha, na localidade de Peenemünde repousam duas relíquia militares, o submarino U-461 construído na URSS nos anos 60 e o foguete V-2, a última esperança de um tal H em ganhar uma guerra perdida. Não deixa de ser curioso que estes objectos outrora tão distantes, quer geograficamente quer no que respeita ás filosofias políticas que os originaram, não distem agora mais do que 450 metros um do outro. Ao fotografar os dois colossos não pude deixar que esboçar um sorriso malicioso devido a uma extrapolação tendenciosa que a minha cabeça adora fazer. Os dois objectos ilustram quem sabe o espírito das gentes que os conceberam. Do lado Soviético temos um submarino a diesel, uma tecnologia tão robusta quanto arcaica, capaz de transportar armas nucelares mas severamente limitado quer em alcance ou profundidade. Do outro lado temos um elegante foguete ariano movido a etanol, água e oxigênio líquido com um alcance de 300km. O primeiro coloca o militar no centro (ventre?) da técnica, o segundo coloca o militar atrás de um botão. O primeiro ilustra o custo humano que a URSS pagou para manter a geopolítica Europeia em xeque, o segundo ilustra o ego Germânico em construir uma Über-arma tão avançada quanto inútil (estima-se que os V-2 tenham causado cerca de 9000 mortes mas custaram cerca de 20000 vidas a construir).
Hoje em dia ambos os titãs repousam, olham-se de lado mas já nada podem fazer. Um vive acorrentado ás margens do Báltico, o outro está pregado ao chão. Um serve para o civil explorar a claustrofobia da guerra, o outro serve para a pose fotografia sob o eufemismo de ter sido o primeiro objecto no espaço.
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