10 de janeiro de 2011

Silhuetas de aeroporto (2)

Tinhas razão, sempre sempre razão. Como já vem sendo habitual nestas andanças muitas vezes não escutamos os mais velhos, aqueles que julgamos paralisados no tempo, as vozes de sabedoria que tantas vezes enfiamos para o fundo de precipícios de juventude amarradas a cordas de ignorância. Enquanto te leio, sentado uma vez mais neste tenebroso chão de aeroporto, dou por mim a desentupir os ouvidos dessa cera monótona com que a insípida fonética Alemã bombardeou (ups) os meus tímpanos da beira serra desterrados. E és tu a minha única companhia nesta viagem soluçante com promessas de doçura ao longe e lábios rosa-claro em combustões revolucionárias de Lenine que aqui deixo. És tu a única voz que ecoa na minha cabeça atordoada pelo zumbido das entranhas do pássaro de lata, és tu meu conhecimento do inferno que se desdobra em mil falas, mil narradores, mil linhas de incertezas tortas e angustias pessoais. É preciso tomar lições de abismo, disseste tu um dia na TV citando Verne.


Também eu queria tirar lições deste abismal espaço de bagagens perdidas, de carrinhos a chiar carregados de malas cor-de-rosa plastificadas rotativamente em celofane à prova de espaço Schengen. Queria tirar lições dessa exponencial confusão de línguas reduzidas a um insosso denominador comum Britânico que encontrou na sua utilidade arcaica o carimbo inglório de língua Universal. Sim, sei que estou a ser estúpido e tendencioso, e depois?... Não foste tu que disseste para adorar a nossa língua e ama-la acima de todas as coisas?, ou estarei eu confuso?
Não importa, parece que o pássaro de lata afinal sempre vai chegar. Assim sendo vou partir para a penúltima parte da jornada, para mais perto das montanhas, para junto do verde granítico embandeirado a urze nos declives dos penedos. Respirarei em breve outra vez...

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Trans - Siberiano