Coisas que escrevi para passar o tempo nos aeroportos a caminho de casa:
Triste reflexo do engenho humano, uma silhueta em esquina de aeroporto que espera ansiosamente por um pássaro de lata que a leve para bem longe num voo programado à altitude de um desesperante destino. Hoje em dia já não se viaja, apenas se parte e se chega. O espaço entre o partir e o chegar já não existe, o romantismo do caminho foi morto pela evaporante querosene, foi enterrado à beira de uma ilha esmeralda com direito a amnistias de lowcost. O aeroporto é pois uma ilusão de viajem com rotinas de Hollywood. Câmaras de segurança, máquinas raio-x, detectores de metais, passport please. Um bailado de tarefas ridículas de atentado à condição humana na deplorável negação do transporte de uma pasta de dentes.
Triste reflexo do engenho humano, uma silhueta em esquina de aeroporto que espera ansiosamente por um pássaro de lata que a leve para bem longe num voo programado à altitude de um desesperante destino. Hoje em dia já não se viaja, apenas se parte e se chega. O espaço entre o partir e o chegar já não existe, o romantismo do caminho foi morto pela evaporante querosene, foi enterrado à beira de uma ilha esmeralda com direito a amnistias de lowcost. O aeroporto é pois uma ilusão de viajem com rotinas de Hollywood. Câmaras de segurança, máquinas raio-x, detectores de metais, passport please. Um bailado de tarefas ridículas de atentado à condição humana na deplorável negação do transporte de uma pasta de dentes.
O tempo dentro de um aeroporto não passa, arrasta-se, pior, rasteja penosamente tal como um verme moribundo que carrega às costas a geada de um inverno negro. Preferia a estagnação ao avanço lento, à tortura do tempo que nos tinge os olhos com ilusões de embarque e last call. Se ao menos o tempo estagnasse poderia apreciar o voo dos pássaros, o nascer do sol por de trás do Airbus desajeitado, as corridas das gotas em cavalgadas cristalinas de luz nos campos de vapor da janela. O aeroporto, um passo para o exílio natalício em terras de Torga, terras de caçadores de submarinos, terras de pioneiros de cruzeiro, terra de governadores do Oriente e África, terra das terras porque a nossa terra é sempre mais que o globo inteiro.
O aeroporto e a fila, as duas trincheiras cerradas, impermeáveis à minha fraca paciência Lusitânia e atroz desejo de me ver novamente onde o ar é respirável. Inalar pelas narinas dentro as mais naturais e elevadas concentrações de ozono troposférico da Europa emanadas por esse mar verde de pinheiros ondulantes, amantes ciumentos das fragas da montanha. Só tenho que passar esta fila, esta fila de choros de crianças em rebeldia própria da idade, esta fila de casais lowcost comungando juntos a súplica do matrimónio de embarque. Só me resta ultrapassar esta fila de adolescentes disfarçadas de mulher que soluçam filosofias de rebuçado debruçadas em precipícios de rimel. Passport please...
2 comentários:
Essas imagens que colocas.. foste tu que desenhaste ???? :D
Se foste parece-me muitissimo bem.. sim senhor! ;) Beijoca
Não Marta :( Infelizmente eu não sei desenhar. Podes ver o autor/a dos desenhos se carregares no link debaixo de cada imagem. Abraços
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