Retomo a viajem por Israel...
Trinta e três!?!?
Significado ou mera coincidência? A pergunta não sai da minha cabeça enquanto olho continuamente para o bilhete de autocarro na minha mão direita. Trinta e três foram os milagres que Jesus fez e trinta e três é a idade com que foi crucificado. Trinta e três shekels é quanto custa o bilhete de ida e volta entre Tel Aviv e Jerusalém. A simbologia carrega algum misticismo enquanto a autoestrada se desenrola entre pequenas subidas e descidas, quase sempre em linha recta.
Ao meu lado direito dorme uma rapariga que não aparenta ter mais de vinte anos. Os cabelos negros encostados ao vidro deixam transparecer a paisagem que se vai tornando um pouco mais irregular a cada quilómetro. Podia ser uma qualquer rapariga num qualquer autocarro deste mundo excepto que neste caso uma enorme arma descansa no seu colo. Os meus olhos fecham de cansaço e só acordo quando o autocarro inicia uma subida abrupta.
A segurança é apertada e para sair da estação é preciso passar por uma série de controlos onde os seguranças nem sempre se demonstram simpáticos.
A parte velha da cidade fica a uns bons vinte e cinco minutos da estação se caminharmos a passo moderadamente veloz. Uma linha de eléctrico está a ser construída lançando o tráfego da cidade para o abismo do pára-arranca. Os autocarros estão sobre-lotados e os taxistas são tão irritantes que decido retirar o mapa da mochila e fazer eu próprio o meu trajecto.
Por ruas desconhecidas e bermas de estrada mal pavimentada deparo-me com um indivíduo que pergunta se eu preciso de ajuda. Eu digo-lhe que procuro o que todos procuram. Ele sorri e diz que a velha cidade fica para a direita depois de passar o edifício em frente que descobri ser a Câmara Municipal.
Entro na velha cidade pelos portões de David. As obras de reconstrução retiram-lhe quase toda a beleza e os primeiros bazares cheios de tretas chinesas e locais onde adquirir Dólares levam-me a pensar que também aqui o turismo em massa fez os seus danos.
Surpreendentemente, e apesar do contínuo burburinho de fundo, a cidade parece agora mais calma. As lojas vão lentamente deixando o seu ar comercial. Em vez de postais, miniaturas e crucifixos de plástico apresentam agora tapeçarias, chá, especiarias e sal do mar morto.
Chego a um cruzamento. Em frente fica a Cúpula da Rocha, o local mais sagrado para os Muçulmanos depois de Meca e Medina e o local onde Abraão se preparou para sacrificar seu filho Isaac. Para minha direita está o Muro das Lamentações, a única estrutura que testemunha a existência do Templo de Herodes. Construído pelos Judeus após exílio Babilónico mais ou menos no mesmo local onde 70 anos antes (discutível) Nabucodonosir II havia destruído o Templo de Salomão, o local que serviu de abrigo às tábuas que continham os Dez Mandamentos.
Não deve existir um local no Mundo onde a simbologia seja tão imediata e intensa como aqui. A minha caminhada leva-me por entre a Basílica do Santo sepulcro onde Jesus foi sepultado, Igreja da Anunciação para culminar com uma cansativa subida ao Monte das Oliveiras, no sopé da qual Judas traiu o grande Jota.
Uma vez chegado ao topo observo como a cidade é imponente. Tanto sangue derramado sob e por causa destas muralhas, tantas coisas que não entendo e tantas outras cuja clarividência me escapa.
Depois de algumas fotografias e um reconfortante lanche trazido de Tel Aviv preparo o caderno para escrever. Os cânticos que emanam dos altifalantes enchem a atmosfera de misticismo e no momento em que toco com a caneta no papel um pequeno homem diz em tom autoritário: We are about to close!!!
Eu respondo se é brincadeira ou se vai mesmo fechar o acesso ao Monte. O pequeno homem responde. Yep, got to eat too...
Arrumo o caderno e faço a minha viagem de regresso à estação pensando num velho ditado que encontrei um dia num livro de culinária Transmontana. "Por mais santo que seja o dia a panela tem de ferver"
Trinta e três!?!?
Significado ou mera coincidência? A pergunta não sai da minha cabeça enquanto olho continuamente para o bilhete de autocarro na minha mão direita. Trinta e três foram os milagres que Jesus fez e trinta e três é a idade com que foi crucificado. Trinta e três shekels é quanto custa o bilhete de ida e volta entre Tel Aviv e Jerusalém. A simbologia carrega algum misticismo enquanto a autoestrada se desenrola entre pequenas subidas e descidas, quase sempre em linha recta.
Ao meu lado direito dorme uma rapariga que não aparenta ter mais de vinte anos. Os cabelos negros encostados ao vidro deixam transparecer a paisagem que se vai tornando um pouco mais irregular a cada quilómetro. Podia ser uma qualquer rapariga num qualquer autocarro deste mundo excepto que neste caso uma enorme arma descansa no seu colo. Os meus olhos fecham de cansaço e só acordo quando o autocarro inicia uma subida abrupta.
A segurança é apertada e para sair da estação é preciso passar por uma série de controlos onde os seguranças nem sempre se demonstram simpáticos.
A parte velha da cidade fica a uns bons vinte e cinco minutos da estação se caminharmos a passo moderadamente veloz. Uma linha de eléctrico está a ser construída lançando o tráfego da cidade para o abismo do pára-arranca. Os autocarros estão sobre-lotados e os taxistas são tão irritantes que decido retirar o mapa da mochila e fazer eu próprio o meu trajecto.
Por ruas desconhecidas e bermas de estrada mal pavimentada deparo-me com um indivíduo que pergunta se eu preciso de ajuda. Eu digo-lhe que procuro o que todos procuram. Ele sorri e diz que a velha cidade fica para a direita depois de passar o edifício em frente que descobri ser a Câmara Municipal.
Entro na velha cidade pelos portões de David. As obras de reconstrução retiram-lhe quase toda a beleza e os primeiros bazares cheios de tretas chinesas e locais onde adquirir Dólares levam-me a pensar que também aqui o turismo em massa fez os seus danos.
Surpreendentemente, e apesar do contínuo burburinho de fundo, a cidade parece agora mais calma. As lojas vão lentamente deixando o seu ar comercial. Em vez de postais, miniaturas e crucifixos de plástico apresentam agora tapeçarias, chá, especiarias e sal do mar morto.
Chego a um cruzamento. Em frente fica a Cúpula da Rocha, o local mais sagrado para os Muçulmanos depois de Meca e Medina e o local onde Abraão se preparou para sacrificar seu filho Isaac. Para minha direita está o Muro das Lamentações, a única estrutura que testemunha a existência do Templo de Herodes. Construído pelos Judeus após exílio Babilónico mais ou menos no mesmo local onde 70 anos antes (discutível) Nabucodonosir II havia destruído o Templo de Salomão, o local que serviu de abrigo às tábuas que continham os Dez Mandamentos.
Não deve existir um local no Mundo onde a simbologia seja tão imediata e intensa como aqui. A minha caminhada leva-me por entre a Basílica do Santo sepulcro onde Jesus foi sepultado, Igreja da Anunciação para culminar com uma cansativa subida ao Monte das Oliveiras, no sopé da qual Judas traiu o grande Jota.
Uma vez chegado ao topo observo como a cidade é imponente. Tanto sangue derramado sob e por causa destas muralhas, tantas coisas que não entendo e tantas outras cuja clarividência me escapa.
Depois de algumas fotografias e um reconfortante lanche trazido de Tel Aviv preparo o caderno para escrever. Os cânticos que emanam dos altifalantes enchem a atmosfera de misticismo e no momento em que toco com a caneta no papel um pequeno homem diz em tom autoritário: We are about to close!!!
Eu respondo se é brincadeira ou se vai mesmo fechar o acesso ao Monte. O pequeno homem responde. Yep, got to eat too...
Arrumo o caderno e faço a minha viagem de regresso à estação pensando num velho ditado que encontrei um dia num livro de culinária Transmontana. "Por mais santo que seja o dia a panela tem de ferver"
1 comentário:
Que maravilha Luigi! :)
Como gostava de poder visitar Jerusalém! Aproveita esta graça que te é concedida!
Um grande beijinho :)
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