Passei a tarde de Domingo em Berlin, visitei uma exposição de Thomas Demand, devorei um medíocre Tiramissu a meias com uma amiga e regressei a Potsdam. Cansado e aborrecido decidi fotografar o opaco brilho invernal que cobria a cidade.
Planeava percorrer mais ruas, mais pontes, mais trilhos brancos bordados de sombras. Mas não o fiz, em vez fiquei parado em cima de uma ponte olhando a outra margem. O frio não parecia incomodar, nem sequer parecia existir. Sacudi com a mão a camada de neve que se equilibrava no gradeamento, debrucei-me, tirei uma única fotografia,. Depois meti a mão direita ao bolso e retirei o caderno, sempre o caderno...
Quando a noite cai elevando a memória
Olhares rodopiam em torno da história.
Quando os lábios se tocam e tudo o mais não interessa
Quando o espaço se cinge ao lugar onde os corpos se abraçam
Quando o relógio anda mas as horas não passam.
Juntos adormecemos separados pelos medos
Juntos devoramos um amor doente
Contando mentiras e contando segredos
Num dialecto que mais ninguém entende.
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