4 de janeiro de 2010

Geometria Transmontana

Em Trás-os-Montes já todos sabem a história... A terra, esse sinónimo de riqueza, vai passando de pais para filhos sendo partida e repartida ao expoente do parentesco ou então aglutinada por via matrimonial sagrada. Por vezes a questão é resolvida a bem, outras vezes é resolvida a mal não raras vezes com recurso à arma da fogo. Esta é a história da geometria Transmontana.

Sempre que o poderoso Nilo invadia as margens do Egipto destruía no seu fluir as marcas físicas de delimitação territorial. Em troca deixava as terras férteis prontas para a sementeira e como revés muitas dores de cabeça aos Egípcios. Dores essas que muitas vezes terminavam com a morte de agricultores que proclamavam a possessão de terras que não lhes pertenciam. Os faraós instituíram então a geometria como forma de prevenir males maiores. A própria semântica da palavra denuncia o seu propósito, "Geo" significa terra e "metria" significa medida.

Mas chega de história. O povo Egípcio inventou a geometria mas é o povo Transmontano que trata esta velha arte com o respeito que ela merece. Pode parecer risível mas depois de percorrer este Natal os terrenos que já foram dos meus avós, passaram para os meus país e são agora em parte dos meus primos a verdade sobre a geometria Transmontana revelou-se em todo o seu esplendor diante dos meus incrédulos olhos.

Acompanhado pelo meu pai, percorri numa tarde chuvosa um caminho que costumava conhecer como a palma da minha mão. Digo costumava porque agora o dito caminho está rodeado de cicatrizes betuminosas às quais alguns chamam progresso, mas isso é outra história.
A cada passo do passeio ia perguntando ao meu pai de quem eram (agora) as parcelas de território pelas quais íamos passando. Sem recorrer a teoremas pitagóricos ou registos em papiro o meu pai ia enumerando o nome de todos os proprietários. Mais, sem recorrer a nenhum instrumento de medida ia delimitando, uma a uma, as fronteiras de cada parcela usando expressões que não deixam margem para dúvidas quando à sua precisão. Por exemplo:"É assim até ali, sempre a direito do muro e até à cancela" ou "Daqui até lá ao fundo, onde começa o riacho" e por fim o precioso "Por aqui abaixo sempre perpendicular à oliveira".

Houvesse força e memória e o meu avô diria exactamente a mesma coisa. Ou seja, de geração em geração a terra era delimitada não por régua e esquadro mas sim pelas gentes. Cada pedaço de terreno tinha um nome típico, cada proprietário uma alcunha e cada pedra, árvore, ou seja lá o que fosse que delimitava os terrenos, uma função extra para além do seu natural propósito.
Ora os Egípcios recorriam a triângulos e quadrados para medir as terras e mantinham registos pormenorizados com um número identificativo de cada parcela. Por sua vez, um Transmontano ama a sua terra de tal modo que não a delimita, abraça-a e não a regista, baptiza-a.

Haverá pois maior respeito pela "Geo"? E pela "metria"?

1 comentário:

Telmo Pereira disse...

Gostei da tua reflexão mas gostava de fazer um reparo, eu não sou transmontano e também é assim que se faz na minha terra!!!!

Um grande abraço, e continua a escrever!!!!

Telmo

Trans - Siberiano