Muitos soundbites têm ressoado sobre a nomeação de Barack Obama para prémio Nobel da paz 2009. Como sempre, a maioria das discussões giram em torno do acordo ou desacordo com a atribuição do referido prémio sem procurarem, na minha opinião, um significado mais profundo e interessante de "porquê Obama?"
Antes de entrarmos em posteriores considerações, recordemos as palavras do próprio Alfred Nobel sobre a inspiração para se merecer, ou não, um Nobel da paz. Nobel proferiu que o prémio deve ser atribuído "a quem no corrente ano fez mais ou melhor trabalho para a promoção da fraternidade entre nações, abolição dos esforços de guerra e pela manutenção e promoção dos tratados de paz". O Nobel da paz não se rege pelos mesmos critérios que um Nobel da literatura ou medicina. Para estes últimos o que conta são factos concretos, produtos, teorias, percursos profissionais e por ai fora. O Nobel da paz carrega um alto valor simbólico que se sobrepõe ao prático em muitos aspectos.
É por isso que para minha grande surpresa vejo que os críticos da atribuição do prémio Nobel a Barack Obama argumentam a ainda falta de resultados, acordos concretos, tratados, ou seja, estão a meu ver a equiparar um Nobel da paz a um "mero" Nobel da economia. A paz não é medida por coisas concretas, nunca o foi e nunca o será. A paz não se mede ao metro quadrado como muitos pensam quando dizem que Obama não fez nada de visível pela paz. Remeter o poder simbólico do símbolo Obama para a frieza numérica dos resultados é a meu ver uma perspectiva reducionista daquilo que um Nobel da paz representa. E se é assim tão injusto a atribuição deste Nobel devido à falta de resultados, então eu posso muito bem questionar muitos dos Nobel da paz até agora atribuídos. Vejamos dois exemplos tão distintos como o Nobel atribuído a Dalai Lama em 89 e Yasser Arafat em 94.
Se vamos aplicar a mesma frieza numérica dos resultados que parecem faltar a Obama em meros meses de mandato que dizer então dos resultados obtidos pela luta (justíssima) de Dalai Lama desde 1959? Não estou a menosprezar o papel do Dalai Lama, pessoa que tive o privilégio de ver ao vivo e que de facto com a sua postura serena deixa qualquer um em paz de espírito. Apenas quero referir que a frieza dos números dita que: O Tibete continua a ser uma região administrativa Chinesa, a liberdade religiosa sempre sofreu ataques (lembremos a campanha de difusão do ateísmo no Tibete promovida pela China em 1999) e que não se vislumbra num futuro próximo uma abertura Chinesa. No entanto, apesar de tudo isto, ninguém põe em dúvida o valor simbólico do Dalai Lama para a promoção de um clima de paz que evite males maiores e que desperte interesse na comunidade internacional para a causa Tibetana.
O segundo caso é ainda mais gritante de como a frieza dos resultados aplicada a um Nobel da paz é enganadora. Se vamos falar de factos e números então é inegável que Arafat esteve envolvido da criação da Fatah e que esta operou durante anos a partir da Jordânia lançando ataques a Israel. A Fatah cresceu e em 1960 Arafat já controlava a OLP e o resto da história já sabemos... Uma vez mais, ninguém duvida do poder simbólico que Arafat tinha. Um poder de unificar as diferentes facções no seio da OLP e o único que poderia de algum modo falar em nome da Palestina em qualquer tentativa de paz digna desse nome. Em paralelo, Yitzhak Rabin, o master mind por detrás da incrível operação militar que foi a guerra dos 6 dias, foi moralmente responsável por milhares de mortes. No entanto, também ninguém duvida do seu simbolismo histórico como sendo um dos últimos grandes diplomatas capaz de alcançar acordos de paz de Israel com vizinhos Árabes (por exemplo com a Jordânia em 94) apesar do seu passado manchado de sangue
Outros exemplos haveria mas estes chegam para referir que a frieza de resultados não pode ser usada como único critério para refutar um Nobel da paz. Que o Nobel da paz é mais simbólico que operacional e que, na minha opinião, o eleição de Obama não é em nada surpreendente nem entendo o porquê de algumas posições tão extremada (por exemplo Pacheco Pereira).
A meu ver o Nobel da paz a Obama foi bem entregue. Aumenta a responsabilidade de Obama e é um claro aviso para que ele não se desvie a linha que defendeu na sua eleição como presidente dos Estados Unidos. Este é um prémio estratégico para a pessoa (e sejamos realistas) que tem mais potencial e possibilidades operacionais de promover a paz. É certo que Obama tem uma agenda politica difícil e temos de compreender que ocupa um cargo numa democracia que não lhe permite sempre agir com total liberdade. Obama não é um superstar e não está aqui em discussão a "Obamomania" da qual eu também sou crítico, trata-se sim de ver para além do óbvio, e não misturar os ideais de um Nobel que é diferente de todos os outros.
Antes de entrarmos em posteriores considerações, recordemos as palavras do próprio Alfred Nobel sobre a inspiração para se merecer, ou não, um Nobel da paz. Nobel proferiu que o prémio deve ser atribuído "a quem no corrente ano fez mais ou melhor trabalho para a promoção da fraternidade entre nações, abolição dos esforços de guerra e pela manutenção e promoção dos tratados de paz". O Nobel da paz não se rege pelos mesmos critérios que um Nobel da literatura ou medicina. Para estes últimos o que conta são factos concretos, produtos, teorias, percursos profissionais e por ai fora. O Nobel da paz carrega um alto valor simbólico que se sobrepõe ao prático em muitos aspectos.
É por isso que para minha grande surpresa vejo que os críticos da atribuição do prémio Nobel a Barack Obama argumentam a ainda falta de resultados, acordos concretos, tratados, ou seja, estão a meu ver a equiparar um Nobel da paz a um "mero" Nobel da economia. A paz não é medida por coisas concretas, nunca o foi e nunca o será. A paz não se mede ao metro quadrado como muitos pensam quando dizem que Obama não fez nada de visível pela paz. Remeter o poder simbólico do símbolo Obama para a frieza numérica dos resultados é a meu ver uma perspectiva reducionista daquilo que um Nobel da paz representa. E se é assim tão injusto a atribuição deste Nobel devido à falta de resultados, então eu posso muito bem questionar muitos dos Nobel da paz até agora atribuídos. Vejamos dois exemplos tão distintos como o Nobel atribuído a Dalai Lama em 89 e Yasser Arafat em 94.
Se vamos aplicar a mesma frieza numérica dos resultados que parecem faltar a Obama em meros meses de mandato que dizer então dos resultados obtidos pela luta (justíssima) de Dalai Lama desde 1959? Não estou a menosprezar o papel do Dalai Lama, pessoa que tive o privilégio de ver ao vivo e que de facto com a sua postura serena deixa qualquer um em paz de espírito. Apenas quero referir que a frieza dos números dita que: O Tibete continua a ser uma região administrativa Chinesa, a liberdade religiosa sempre sofreu ataques (lembremos a campanha de difusão do ateísmo no Tibete promovida pela China em 1999) e que não se vislumbra num futuro próximo uma abertura Chinesa. No entanto, apesar de tudo isto, ninguém põe em dúvida o valor simbólico do Dalai Lama para a promoção de um clima de paz que evite males maiores e que desperte interesse na comunidade internacional para a causa Tibetana.
O segundo caso é ainda mais gritante de como a frieza dos resultados aplicada a um Nobel da paz é enganadora. Se vamos falar de factos e números então é inegável que Arafat esteve envolvido da criação da Fatah e que esta operou durante anos a partir da Jordânia lançando ataques a Israel. A Fatah cresceu e em 1960 Arafat já controlava a OLP e o resto da história já sabemos... Uma vez mais, ninguém duvida do poder simbólico que Arafat tinha. Um poder de unificar as diferentes facções no seio da OLP e o único que poderia de algum modo falar em nome da Palestina em qualquer tentativa de paz digna desse nome. Em paralelo, Yitzhak Rabin, o master mind por detrás da incrível operação militar que foi a guerra dos 6 dias, foi moralmente responsável por milhares de mortes. No entanto, também ninguém duvida do seu simbolismo histórico como sendo um dos últimos grandes diplomatas capaz de alcançar acordos de paz de Israel com vizinhos Árabes (por exemplo com a Jordânia em 94) apesar do seu passado manchado de sangue
Outros exemplos haveria mas estes chegam para referir que a frieza de resultados não pode ser usada como único critério para refutar um Nobel da paz. Que o Nobel da paz é mais simbólico que operacional e que, na minha opinião, o eleição de Obama não é em nada surpreendente nem entendo o porquê de algumas posições tão extremada (por exemplo Pacheco Pereira).
A meu ver o Nobel da paz a Obama foi bem entregue. Aumenta a responsabilidade de Obama e é um claro aviso para que ele não se desvie a linha que defendeu na sua eleição como presidente dos Estados Unidos. Este é um prémio estratégico para a pessoa (e sejamos realistas) que tem mais potencial e possibilidades operacionais de promover a paz. É certo que Obama tem uma agenda politica difícil e temos de compreender que ocupa um cargo numa democracia que não lhe permite sempre agir com total liberdade. Obama não é um superstar e não está aqui em discussão a "Obamomania" da qual eu também sou crítico, trata-se sim de ver para além do óbvio, e não misturar os ideais de um Nobel que é diferente de todos os outros.
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