27 de agosto de 2009

O Lusitano Liedson !?

Quando li a notícia que o futebolista Liedson faz parte da convocatória para os próximos compromissos da selecção Nacional de futebol, não pude deixar de reflectir sobre o significado moderno de selecção e nacionalidade.Hoje em dia as fronteiras geográficas, estabelecidas na sua maioria por força de canhões e tratados, estão a perder o seu papel de delimitador de culturas e nações tal como as conhecemos. De facto, na era global, o movimento de pessoas, bens e influência cultural através destas permeáveis linhas imaginárias é tal que se torna difícil de quantificar.
No contexto desportivo, as fronteiras geográficas há muito que são meras formalidades administrativas não servindo hoje em dia como garantia de uma representação de nações tal como muitos ainda idealizam.

Como exemplo mediático vem-nos à memória o caso na naturalização de Deco. Deco, originário do Brasil, naturalizou-se Português e incorporou a selecção Nacional fazendo despoletar as mais variadas reacções. Do extremismo purista dos que são contra toda e qualquer tipo de naturalização até aos conformistas passivos que apenas estão interessados em ver mais um bom jogador jogar "por nós".

Interessa na minha opinião discutir dois pontos essenciais. O primeiro prende-se com os defensores da não naturalização com vista a uma representação desportiva, e o segundo borda o sentido complexo que a palavra nacionalidade parece ter nos dias de hoje.

Os que defendem a não incorporação de desportistas naturalizados nas selecções Nacionais invocam muitas vezes que este facto leva a uma descaracterização da própria selecção que se quer, precisamente, "Nacional". Cheguei a ler no jornal Público comentários no sentido de desejar a não qualificação da selecção para o mundial de 2010 visto que esta (selecção) já "não nos diz nada".

Eu pessoalmente não vejo com maus olhos as naturalizações, inclusive muitas delas trouxeram melhor nível competitivo ás nossas selecções. Vejam-se os casos mediáticos de Vickor Tchikoulaev no andebol ou Bira no voleibol. Não só a nível de jogadores mas também a nível estratega Portugal retirou benefícios de treinadores estrangeiros. Ser contra as nacionalizações é ser contra o melhoramento, em muitos casos, no nível de prestações. Pessoalmente eu não me importo, aliás, prefiro uma medalha de prata ganha por um Obikwelo, uma Naide ou um Évora naturalizado do que andar anos e anos até conseguir uma medalha 100% Portuguesa.

O que nos leva à questão seguinte. Afinal o que é ser, hoje em dia, 100% Português?
Uma passagem de Amin Maalouf (curiosamente um Libanês residente em França) relembra-nos que "o começo da sabedoria é constatar a incomparabilidade da nossa época". De facto a nossa época é incomparável a tantas outras que a precederam, assim sendo não podemos hoje em dia ficar presos a definições de outros tempos quando os próprios tempos mudaram.


E nada melhor que o exemplo do Eusébio para constatar o quanto os tempos mudaram.
Originário de Moçambique na era colonial, Eusébio jogou pela selecção Nacional Portuguesa tendo a sua exibição máxima o inesquecível mundial de 66. A Eusébio foi conferida a nacionalidade Portuguesa via (desculpem) ocupação territorial. Aliás, se quisermos ser mesmo "mauzinhos", podemos até dizer que os Europeus, ao introduzirem o conceito de fronteira geográfica num povo até então acostumado à fronteira tribal, foram os responsáveis pela introdução do conceito de nação no continente Africano.
Podemos então chamar Português a alguém oriundo de um País "tecnicamente" ocupado por Portugal. Podemos chamar Português a alguém cujo País não passa de uma invenção branca?

Portugal desde o fim da era colonial sempre apelou à liberdade dos povos. Com mais ou menos coragem (um pouco devido à contracção territorial) Portugal lá foi reconhecendo a liberdade de povos que querem seguir o seu caminho a sós. É neste sentimento que a meu ver reside a chave para resolver o "caso" das naturalizações.


Sou da opinião que nesta fantástica era liberal em que vivemos nada deve impedir um jogador de se naturalizar pelo País que muito bem entender.
Imaginem que Cristiano Ronaldo decide naturalizar-se Inglês. Para mim não seria grande surpresa. Não foi na Inglaterra que ele aprendeu a ser um grande jogador? não foi o programa de treinos do United que o tornou no desportista que ele é hoje? O potencial era Português mas o desenvolvimento foi Britânico. Será que Cristiano não se identificará mais com o povo Inglês, sedento de vitórias, do que com o povo Português, o romântico saudosista?

Todos os habitantes da terra que abracem os valores da individualidade, liberdade e tolerância são bem vindos à selecção Nacional. Todos os habitantes que querem uma oportunidade de competir nos palcos Mundiais via representação Nacional são bem vindos. No fundo, este cantinho geográfico está a dar a oportunidade a atletas Nacionais e Naturalizados de divulgar os valores que fazem parte da cultura, essa sim, tipicamente Portuguesa. E não é isso que uma selecção na verdade é? Uma representante da cultura, neste caso desportista, de um povo?

Abraços em bom fim de semana

1 comentário:

cesaralvim disse...

Muito bem visto...na era em que estamos só temos de ficar felizes por os "naturalizados" nós quererem representar por esse mundo fora!
No entanto e a meu ver não devemos ter uma selecção só apenas de naturalizados portugueses...bom fds

Trans - Siberiano