12 de junho de 2008

Português errante

(Salvador Dali)

Com tantas coisas a acontecer e estando longe de Portugal não posso deixar de afirmar que durante estas últimas semanas me tenho sentido como um outsider. Apesar dos esforços louváveis do ardina Paulinho, a verdade é que não estando no epicentro do sismo é difícil apercebermos-nos da sua magnitude através das réplicas...

As longas filas de espera nas estações de serviço, os preços dos combustíveis, a greve dos camionistas, a paralisação da frota pesqueira etc... São alguns exemplos de acontecimentos que me fazem pensar como será viver em Portugal hoje em dia. É pena que este sentimento me inunde, é pena sentir-me um outsider de um País que me acolheu durante 23 anos.
Para meu regozijo, também na Alemanha me sinto um outsider, sou o único a gritar "golo carago" nos cafés de Potsdam quando Portugal marca e vence mais um jogo (ontem então foi mesmo porreiro).

De regresso a casa, já sem a companhia dos colegas e com o jogo ganho, dou por mim a pedalar nas ruas já familiares. Subo as escadas e abro a porta, todos os amigos estão casa. Uma a cozinhar, outra a estudar um a ler o jornal. Sento-me e partilho uma manga, falo do jogo de Portugal e de não compreender porque é que eles não vibram quando o seu País joga e porque é que ainda não viram nenhum jogo da Alemanha.

Falam e dão as suar razões, razões que não me convencem. Vou para o meu quarto, tento tocar algo que me seja familiar, as músicas que tantas vezes ouvi os colegas da UTAD cantar, Madalena, A morte saiu à rua. Canto, mas nada parece igual, tudo é estranho sem a companhia dos outros, dos que me percebem...

Vou dar a habitual corrida nocturna, hoje tenho companhia... Por entre as passadas vamos falando, mas também não a entendo. Falo dos meus planos em viajar para Paris via Bruxelas, Nice e depois Mónaco. Planos que me parecem cada vez mais ocos mas que serão realizados. Ouço o seu desejo em trabalhar na América do Sul, terminar o curso e regressar à sua cidade natal. Regressar à cidade natal... Regressar à cidade natal...

Já de regresso a casa deito-me e leio um pouco, não estou com vontade de continuar, vou dormir. A janela está aberta e algumas estrelas espreitam por entre a cortina. Sou um outsider, penso. Onde quer que esteja, Alemanha ou Portugal, as coisas simplesmente já não são como eram, e o que foi não volta a ser. Ser outsider não é mau nem é bom, é apenas ser imiscível.

Não vislumbro término para esta condição, talvez não haja, talvez nem queira ou então talvez tudo não passe de imaginação repentina e irracional. Vamos andando, vamos ganhando e vamos perdendo, outsider ou não, nós somos o que somos e a mais não somos obrigados...

Abraços
O Português errante

2 comentários:

Nandita disse...

O sentimento de que "não pertencemos" aflige, não é? Não é nada palpável,podemos nem nos sentir excluídos, mas faltam-nos as coisas conhecidas e a cara de quem afinal nos conhece, e damos por nós perdidos.
Sinto-me assim na tua Bila, às vezes. Mais quando me faltam cá os amigos que juntei, e passeio sozinha pela rua Direita. Vejo que por muito que ame esta terra, sinto falta da minha. E basta voltar a ela para perceber que, também lá, "já não sou quem era"...
Beijo, e espero que apesar de tudo torceres por Portugal te possa dar alguma força, e sentimento de pertença ;)

Anónimo disse...

"O que foi não volta a ser"

Mesmo por cá acabamos por nos sentir desse modo... a semana passada voltei a nossa querida UTAD... senti-me um estranho no meio de uma casa tão conhecida... é um sentimento estranho...

Como te compreendo...

Trans - Siberiano